A contracimeira pelo clima quer acolher todos os que ficam de fora da COP26

Na Cimeira das Pessoas cabem histórias de resiliência de comunidades indígenas e ficam de fora os lobistas das petrolíferas. Em Glasgow, uma coligação de movimentos activistas organiza conversas também online, workshops e protestos de olho na COP26 — mas sem esperar grandes vitórias daquele lado.

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EPA/ROBERT PERRY

A Cimeira das Pessoas começou depois de um dia de protestos e mobilizações em todo o mundo, incluindo Portugal, levar centenas de milhares de activistas e pessoas preocupadas com a crise climática às ruas. Só em Glasgow, 100 mil pessoas terão marchado à chuva no Dia Mundial pela Justiça Climática, a 6 de Novembro, lideradas por activistas indígenas das comunidades e áreas mais afectadas pelas alterações climáticas, que se dizem deixados de fora da cimeira “mais elitista e exclusiva” de sempre.

Para eles, a contracimeira, que decorre em cafés ou jardins públicos, é o palco das “conversas a sério pelo clima” — em oposição “ao greenwashing, retórica e soluções falsas” que, dizem, as delegações de dezenas de países discutem até 12 de Novembro. 

Até 10 de Novembro, nas imediações da COP26, é possível participar num workshop para aprender todos os passos sobre como processar uma megapetrolífera ou ouvir activistas e advogados que levaram governos de países europeus a tribunal; mas também aprender a cultivar cogumelos-ostra a partir de resíduos urbanos e ouvir histórias inspiradoras de resiliência contadas por líderes climáticos indígenas. 

À distância, e gratuitamente através do Zoom, há conversas sobre como tornar os locais de trabalho menos tóxicos e mais seguros para os trabalhadores; perceber a ligação entre justiça climática e justiça racial; ou descobrir como deixar de financiar projectos alimentados a combustíveis fósseis.

O principal objectivo da cimeira alternativa é “dar voz à sociedade civil”, a activistas, investigadores, organizações não-governamentais e comunidades indígenas; pressionar os líderes políticos que se reúnem na cimeira oficial e discutir e organizar formas alternativas de diminuir as emissões globais. 

Desde o início da COP26 que colectivos se queixam das limitações de entrada de observadores independentes nas negociações políticas e da “exclusão de milhares de pessoas de comunidades do Sul global na linha da frente das alterações climáticas”, alertou a COP26 Coalition.

A escalada dos preços de alojamento, dificuldades em obter vistos e regras apertadas por causa da pandemia de covid-19 (ainda para mais em países sem acesso a vacinas) são algumas das razões apontadas.

O número de delegados associados à indústria dos combustíveis fósseis, que ultrapassa o total combinado das oito delegações dos países mais afectados pelas alterações climáticas nas últimas duas décadas (Porto Rico, Myanmar, Haiti, Filipinas, Moçambique, Bahamas, Bangladesh, Paquistão), segundo as contas da organização Global Witness, aumentaram o cepticismo dos activistas e organizações que apelidam a COP26 de um “festival de branqueamento” dos países do Norte.

Segundo a Global Witness, o número de delegados com ligações aos principais poluentes é maior do que a delegação de qualquer país. São 503 pessoas, contou a Global Witness a partir da lista de participantes oficiais publicada pela ONU no início da cimeira — para efeitos de comparação, o Brasil tem a maior equipa de negociadores, com 479 nomes na mesma lista.

Segundo a organização de direitos humanos, 27 delegações oficiais registaram como participantes lobistas dos combustíveis fósseis, incluindo o Canadá, Rússia e Brasil, o que dizem ser um perigoso “conflito de interesses”.

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