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Sul-africano Damon Galgut vence o prémio Booker de 2021 com The Promise

Com vários romances publicados em Portugal, o escritor afirmou aceitar o prémio “em nome de todas as histórias contadas e por contar” do continente africano. O vencedor do Booker foi anunciado esta quarta-feira numa cermimónia transmitida pela BBC.

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David Parry/EPA/THE BOOKER PRIZE PRESS OFFICE/HANDOUT

The Promise, do escritor sul-africano Damon Galgut, venceu esta quarta-feira o prémio literário Booker de 2021. O livro, uma saga familiar centrada em Pretória, conta a história de uma mulher negra a quem a família branca para a qual trabalha há décadas vai deixando por cumprir a promessa de lhe conceder casa própria, mas pode também ser lido como uma chamada de atenção para as promessas incumpridas da nova África do Sul pós-apartheid. 

Galgut, que tem vários livros publicados em edição portuguesa, já estivera duas vezes entre os finalistas do prémio. Ao receber esta quarta-feira o Booker, afirmou que o aceitava “em nome de todas as histórias contadas e por contar do maravilhoso continente” africano ao qual pertence. 

O vencedor foi anunciado por volta das 20h00 pela presidente do júri, a historiadora Naya Jasanoff, que contou que todos os jurados leram três vezes cada um dos seis livros finalistas e que acabaram por chegar a consenso na escolha de “um livro que leva a forma para novos territórios”, de uma “originalidade incrível” e “denso de significado histórico e metafórico”.

Numa lista de finalistas em que os escritores britânicos brilharam pela ausência, Galgut teve de se bater com três autores americanos –Richard Powers, Maggie Shipstead e a estreante Patricia Lockwood –, com um candidato do Sri Lanka, Anuk Arudpragasam, e com a autora de The Fortune Man, Nadifa Mohamed, de dupla nacionalidade inglesa e somali.

The Promise segue a história de uma família branca que possui uma fazenda nos arredores de Pretória, os Swarts, usando como pontos de referência quatro funerais em quatro décadas sucessivas, e mostrando o conflito de gerações no interior do clã familiar.

No centro da história está Salomé, uma empregada negra que trabalhou toda a vida para os Swarts e a quem estes prometeram casa própria, compromisso que foram sempre deixando por cumprir. Na cerimónia de anúncio do prémio, na qual estiveram presentes os seis finalistas, a jornalista Samira Ahmed quis saber porque é que a voz de Salomé não se ouvia no livro. “Ela está no coração do livro, mas não lhe dei voz, e fui enchendo o espaço à sua volta, porque pensei que o seu silêncio e a sua ausência seriam mais poderosos”, explicou Galgut. “O ponto que quis sublinhar é que alguém como ela, uma mulher rural, sem educação, negra, continua a não ter voz mesmo na nova África do Sul, e quis registar isso quase como um facto físico”.

O júri, que incluiu, além de Jasanoff, a actriz Natascha McElhone, a escritora e editora Horatia Harrod, o escritor Chigozie Obioma e o poeta e teólogo Rowan Williams, antigo arcebispo da Cantuária, assinalou a qualidade de todos os finalistas, mas não poupou elogios a The Promise, que considerou “uma espectacular demonstração de como um romance nos pode levar a ver e pensar tudo de novo”. Comparando Damon Galgut aos grandes renovadores da ficção moderna, como William Faulkner, James Joyce ou Virginia Woolf, os jurados caracterizaram ainda este romance como “um forte e inequívoco comentário acerca da história da África do Sul, e da própria humanidade”

Nascido em Pretória em 1963, e radicado na Cidade do Cabo desde os anos 90, Galgut escreveu o seu livro de estreia, A Sinless Season, aos 17 anos. The Promise é o seu oitavo romance. Com The Good Doctor, de 2003, o livro com o qual alcançou notoriedade internacional, chegou também pela primeira vez aos finalistas do Booker Prize, façanha que repetiria em 2010 com In a Strange Room, publicado em Portugal pela Alfaguara com o título Um Quarto Desconhecido e tradução do poeta Vasco Gato. O romance anterior, O Impostor (The Impostor, 2008), foi também lançado pela Alfaguara, e a Jacarandá editou Verão Árctico (Arctic Summer, 2014).

Galgut é ainda autor de várias peças de teatro e de um livro de contos, Small Circle of Beings, no qual evoca a luta que teve de travar com o cancro desde os seis anos, e que o obrigou a passar longos períodos da sua infância internado em hospitais.

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