O peso das minhas acções individuais importa para a balança do clima?

Perguntamos a quem sabe, para a série “Quem sabe responde”. Desta vez, e tendo como mote a COP26, questionamos especialistas e activistas acerca de mitos, conceitos ou ideias relacionados com o clima e o ambiente. Ana Pêgo, bióloga marinha e autora do Plasticus Maritimus, conta-nos o que aprendeu em dez anos a falar de poluição (dos oceanos, mas não só).

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Escolher andar de bicicleta e diminuir o consumo de carne pode deixar-nos mais saudáveis e felizes, mas acções como separar o lixo, evitar voos de longa distância ou substituir lâmpadas não passarão de pensos rápidos num planeta em aquecimento. A mudança sistémica é crítica, e terá de começar por quem tem o poder e o dinheiro. Enquanto a crise climática se intensifica, a bióloga marinha, activista e autora Ana Pêgo partilha a sua opinião sobre esforços individuais e colectivos num planeta onde apenas 100 empresas são responsáveis por mais de 70% das emissões globais, desde 1988. A culpa das alterações climáticas não é nossa — o que não é o mesmo que dizer que só nos resta sentar no sofá e ver o planeta a arder.

As escolhas individuais dos consumidores podem evitar os piores impactos das alterações climáticas?

“As mudanças individuais são muito fraquinhas e é um processo muito lento. Posto isto, têm influência na medida em que estas acções individuais, quando começam a crescer, a juntar cada vez mais gente, acabam por criar pressão nas empresas e nos governos que só nessa altura começam a criar condições para que as pessoas possam, pelo menos, ter alternativas mais amigas do ambiente.

Acho que é muito importante os cidadãos estarem bem informados para que cada um possa criar as suas pequenas acções de mudança. Mudanças colectivas começam pela família, pelo grupo de amigos, pelas nossas comunidades — é um excelente começo. Querendo organizar algo mais global, podem organizar grupos, escrever cartas, ter uma atitude mais activa e mais activista na sociedade, estar bem informado para ter boas sugestões que possam ser implementadas no bairro, nas juntas de freguesia, no município.”

Qual é o principal impacto de uma só pessoa tomar uma decisão pelo clima?

“Num determinado momento não é suficiente, mas conforme se vão juntando outras pessoas acaba por ter influência. Deveriam ser as empresas e os governos a tomar a iniciativa, infelizmente tem de ser ao contrário e têm de ser as pessoas cada vez mais sensibilizadas pelo assunto a exigirem mais e melhor.”

Como combater a frustração perante um problema tão colossal, como a poluição nos oceanos ou a crise climática?

“Essa é a parte pior. Há dez anos que falo com pessoas, vou a escolas, faço palestras e se no início achava que os municípios não faziam nada por uma questão de ignorância — e que se conseguisse informá-los e dar sugestões, iriam implementar essas ideias —, neste momento, estas pessoas todas não podem dizer que não sabem o que se passa. O município onde estou inserida, em particular, tem sido palco de grandes conferências do mar, do clima, do ambiente e parece que só faz algumas coisas que lhe dão visibilidade e alguns prémios. 

Já ultrapassei esta fase e estou motivada outra vez. O que me motiva são as outras pessoas e outras organizações. É um problema mundial, muito grave, mas também há pessoas no mundo inteiro a mexerem-se e a lutarem pela preservação do ambiente, do planeta e dos oceanos e acabamos por nos motivar uns aos outros. Pessoas de formas diferentes, de idades diferentes, através de meios diferentes, uns mais através da Ciência, outros da Arte. Todas estas acções são muito importantes e acabam por nos motivar uns aos outros.”

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