Quando falamos de vinho, “não há perguntas idiotas”

No Vinhos de Portugal no Brasil, as conversas descontraídas continuam a descomplicar o universo do vinho. Nos dois primeiros dias houve de tudo - muitas histórias, gargalhadas e até um cão a passear no estúdio. O evento continua no próximo fim-de-semana.

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Dirceu Vianna Júnior (à esquerda) e Monique Alfradique (à direita) protagonizaram uma conversa divertida Fernando Donasci
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Fernando Donasci
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Todas as perguntas são válidas quando conversamos sobre vinho. E, para que ninguém se sinta intimidado pelas dúvidas que surgem quando se está perante uma garrafa ou um copo de vinho, os convidados dos talk-shows do Vinhos de Portugal fazem as perguntas que nós, consumidores, muitas vezes quisemos fazer e não tivemos coragem. O evento (este ano ainda em versão digital, tal como em 2020) organizado pelos jornais PÚBLICO, de Portugal, O Globo e Valor Económico, do Brasil, em parceria com a ViniPortugal, concluiu este domingo o seu primeiro fim-de-semana e regressa a 23 e 24 com novos convidados brasileiros e novos produtores portugueses.

“Pode colocar uma pedrinha de gelo?”, perguntou a actriz e apresentadora Monique Alfradique a Vasco Penha Garcia, quando este lhe serviu o Greco di tufo Vinha das Faias da Quinta da Bacalhôa, na Península de Setúbal. “Gelo, nunca”, respondeu o enólogo, recuando na cadeira só de imaginar. “Botar pedrinha de gelo, isso não existe, gente”, apressou-se a confirmar Monique, com uma gargalhada, para o público que no Brasil assiste às talks e às provas dirigidas por críticos, com a presença dos produtores, e com os vinhos que receberam entretanto nas suas casas.

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De caminho, Monique – que faz parte do grupo de convidados do primeiro fim-de-semana, com a sommelière Cecília Aldaz, o chef francês a viver no Brasil Claude Troisgros, e o actor brasileiro a viver em Portugal Thiago Rodrigues – ficou também a saber que a Greco di Tufo é uma casta vinda da Grécia e que “há uma inscrição em Pompeia que fala sobre o efeito afrodisíaco deste vinho”. Monique, que já pedira ao enólogo para lhe enviar uma caixa, apressou-se a corrigir o pedido: “Olha, manda duas.”

Gargalhadas não faltaram nesta conversa dirigida pelo master of wine brasileiro Dirceu Vianna Junior, que, a certa altura, explicou à apresentadora por que é que certos vinhos devem ser decantados e postos a respirar. “Vou colocar você dentro de uma caixa e vou deixar bastante tempo. Como é que você vai sair da caixa?”. “Desmaiada?”, respondeu Monique. Sim, a ideia é que só depois de algum tempo ao ar conseguirá voltar à sua verdadeira identidade. O mesmo acontece com o vinho, disse Dirceu. 

Cecília Aldaz, que é responsável pelos vinhos no restaurante de duas estrelas Michelin Oro, no Rio de Janeiro, tem, obviamente, um grande conhecimento sobre o tema, mas isso não a impede de ter também perguntas para fazer. Como esta, ao enólogo Anselmo Mendes, conhecido como “Sr. Alvarinho” pelo trabalho que tem desenvolvido ao longo dos anos com esta casta: “Em Portugal tem mais de 340 castas. E você vai escolher trabalhar uma?”. “Já me disseram que o Alvarinho é como o bacalhau – existem mil maneiras de o fazer”, respondeu Anselmo, que aproveitou para contar várias histórias, incluindo a das suas tentativas para, há vários anos, fazer um vinho de curtimenta (branco que fica em contacto com as películas e que pode ganhar um tom mais profundo, próximo do laranja, que hoje está na moda). “Lancei o vinho e não vendi nem uma garrafa”, recordou, rindo.

Pedro Ramos, sommelier no restaurante lisboeta Alma, com duas estrelas Michelin, está a apresentar algumas das conversas e, ao mesmo tempo, a fazer a cobertura personalizada do evento no Instagram. “Um dos momentos que achei muito interessantes foi o Daniel Niepoort aparecer com a cadelinha Pisca”, diz. “Todo o mundo ficou ‘uau, trouxe a cadelinha’, e houve gente nos bastidores que disse ‘trazer uma cadelinha é insuperável, como é que vou agora superar isso?’”.

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A cadela Pisca, de Daniel Niepoort, fez furor entre a assistência Fernando Donasci
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O actor Thiago Rodrigues e Lígia Santos, dos Caminhos Cruzados Fernando Donasci

Gostou também particularmente da conversa de Thiago Rodrigues com duas produtoras, Marta Galamba, do Colinas do Douro, e Lígia Santos, dos Caminhos Cruzados, não só por serem ambas mulheres mas também pelo detalhe sobre a protecção da natureza, e em particular dos pássaros, no projecto apresentado por Marta Galamba. Quanto à pergunta de Monique sobre o gelo no vinho, Pedro diz que “é uma dúvida frequente de muita gente leiga no assunto”, algo de que se apercebe no seu trabalho como sommelier.

“Por vezes, as pessoas sentem-se um pouco intimidadas ao folhear a carta de vinhos”, afirma, mas no Alma, com muitos clientes estrangeiros, cabe muitas vezes a Pedro orientá-los, procurando o vinho português que melhor corresponde ao perfil de que gostam. No Vinhos de Portugal, conclui, “com o convívio, a troca de informação, a humildade de todo o mundo… não existe pergunta idiota”. “Estamos aqui para responder a todas elas.”

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