Abdulrazak Gurnah, o Nobel que escreve a partir do próprio corpo
O escritor tanzaniano é o 118.º vencedor do Nobel da Literatura, um prémio para o modo como tem escrito sobre o desenraizamento e os efeitos da colonização numa perspectiva eurodescentrada. Uma decisão tão política quanto literária e que mais uma vez levou a um rasgar de todas as listas de potenciais favoritos.
“Khalifa tinha vinte e seis anos de idade quando conheceu o comerciante Amur Biashara.” A primeira frase do mais recente romance de Abdulrazak Gurnah, Afterlives (2020), remete para uma época de massacre, a do primeiro genocídio do século XX na África Oriental, em 1904 — dessa vez cometido pela Alemanha que, em finais do século XIX, havia construído um império tardio naquele continente. Então, sob domínio germânico, estavam a Namíbia, Camarões, Togo, parte do actual Quénia, Ruanda, Burundi e territórios dos então Tanganica e Zanzibar que deram origem ao actual nome Tanzânia. Khalifa é um guarda-livros, filho de uma mulher negra e de um indiano do Gujarat, uma identidade mesclada num mundo que além da violência é marcado pelo hibridismo tendo como centro a costa Oriental de África e, em particular, o oceano Índico, como acontece em grande parte do universo literário de Abdulrazak Gurnah, o vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2021.
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