Denunciante do Facebook acusa empresa de enganar investidores e escolher “lucro em detrimento da segurança”
Frances Haugen, 37 anos, esteve no Facebook entre 2019 e Maio deste ano. A analista de dados passou as últimas semanas de trabalho a recolher estudos e relatórios escondidos pela empresa, incluindo estudos sobre o impacto negativo da plataforma nos jovens.
Os documentos internos do Facebook a detalhar o impacto negativo da plataforma na saúde mental dos mais jovens foram divulgados por uma das antigas gestoras de produto da empresa. Os estudos de 2019 permaneceram escondidos do público até que Frances Haugen os enviou ao jornal Wall Street Journal e desencadeou a investigação Ficheiros Facebook. Este domingo, Haugen contou a sua história ao programa 60 Minutos da CBS e acusou a empresa de Mark Zuckerberg de escolher “o lucro em detrimento da segurança”.
“Havia conflitos de interesse entre o que é bom para o público e o que é bom para a empresa”, recordou Haugen durante a entrevista. “E uma e outra vez, o Facebook optou por optimizar os seus próprios interesses, como fazer dinheiro”.
Haugen, 37 anos, é especialista em análise de dados e inclui empresas como a Google, o Pinterest e a aplicação de namoro Hinge no currículo disponível no LinkedIn. Trabalhou como gestora de produto do Facebook de 2019 a Maio deste ano — as últimas semanas em funções foram passadas a rever relatórios internos. Aquilo que viu ser feito na empresa, recordou durante a entrevista à CBS, foi “substancialmente pior” do que qualquer experiência anterior.
Segundo a analista de dados, o algoritmo do Facebook, que decide aquilo que os utilizadores vêem primeiro no site, está optimizado para mostrar conteúdo que cause reacções e emoções fortes. “O Facebook percebeu que se mudassem o algoritmo para algo mais seguro, as pessoas iriam passar menos tempo no site, iriam clicar em menos anúncios, e iriam fazer menos dinheiro”, justificou a informadora do Wall Street Journal.
Depois, existiam documentos internos — que a empresa decidiu não divulgar — sobre a forma como o Instagram, que o Facebook comprou em 2012, piorava a auto-estima e a imagem corporal das jovens.
A gota de água, disse Haugen, foi o facto de o Facebook suspender as operações da equipa de integridade física (um grupo responsável pelo combate à desinformação durante períodos eleitorais), após as eleições norte-americanas de 2020. Haugen acredita que o desaparecimento desse grupo contribuiu para o ataque ao Capitólio, a 6 de Janeiro, por apoiantes do então presidente Donald Trump.
O Facebook contesta as acusações. Numa publicação no Twitter, Guy Rosen, o vice-presidente de integridade do Facebook, diz que a equipa de integridade física não foi suspensa. “Foi integrada numa equipa de Integridade Central maior para que o incrível trabalho pioneiro feito para as eleições pudesse ser aplicado de forma mais ampla, por exemplo, em todas as questões relacionadas com a saúde”, escreveu.
“Sugerir que encorajamos maus conteúdos e que não fazemos nada não é verdade”, acrescentou um porta-voz do Facebook, contactado pelo PÚBLICO sobre as restantes acusações de Haugen. “Todos os dias as nossas equipas têm de equilibrar a protecção do direito de milhares de milhões de pessoas se expressarem abertamente com a necessidade de manter a nossa plataforma um lugar seguro e positivo”, lê-se na resposta da empresa.
As declarações de Haugen e os documentos sobre o impacto das plataformas do Facebook nos mais novos vêm aumentar o escrutínio em torno das políticas da empresa. A semana passada, a rede social decidiu suspender a criação de uma versão do Instagram para menores de 13 anos.
Editado: Acrescentada referência aos Ficheiros Facebook.