Os pecados do FC Porto à lupa: erros individuais e baixa agressividade
Lacunas apontadas por Sérgio Conceição à equipa têm sustentação estatística. E a superioridade do Liverpool até nos duelos individuais é um dos indicadores mais significativos.
O diagnóstico realizado por Sérgio Conceição no final da goleada sofrida pelo FC Porto diante do Liverpool, na 2.ª jornada da Liga dos Campeões, foi tão claro quanto arrasador: “No primeiro remate, aos 17’, o Liverpool marcou o primeiro golo. Aliás, os golos são remates de descontracção. Não podemos fazer nove faltas contra uma equipa destas (...). Tivemos perdas de bola em zonas proibidas.” Os números confirmam quase na totalidade este raio-X do treinador dos “dragões”, que lançou um apelo a uma reflexão interna.
Na débacle portista no Estádio do Dragão, houve, antes de mais, demasiados erros individuais para um embate desta exigência, três dos quais resultaram em golo. De jogadores mais experientes, como Corona (que teve muitas dificuldades em sair a jogar), e dos menos rodados nestas andanças, como são os casos de Zaidu (que se atrapalhou em zona proibida no golo inaugural) e de Diogo Costa (que facilitou no 0-2 e comprometeu decisivamente no quarto golo dos britânicos, com uma saída despropositada da baliza).
A este nível, falhas técnicas desta natureza têm um custo muito elevado, especialmente se tivermos em conta que do lado contrário estava um tridente ofensivo (Mohamed Salah, Diogo Jota e Sadio Mané — e mais tarde Roberto Firmino) com uma capacidade de finalização acima da média. E que deitou por terra qualquer tentativa do FC Porto de pensar o jogo com critério, fruto de uma pressão asfixiante sobre o portador no momento da saída de bola.
Essa foi, de resto, outra das fatalidades dos “dragões”. Incapazes de se libertarem das amarras do Liverpool, que subia declaradamente Curtis Jones e Jordan Henderson no corredor central na tentativa de recuperar a bola, acumularam 23 perdas de bola na partida (14 turnovers e 11 desarmes permitidos), quase todas no meio-campo defensivo, inviabilizando qualquer tentativa de construir em apoio.
Muitas vezes na dúvida entre subir o bloco para pressionar mais alto os centrais do Liverpool (ou Fabinho) na saída de bola ou baixar linhas para retirar espaço de manobra a Salah e Jota no ataque à profundidade, o FC Porto perdeu identidade. E os níveis de agressividade da equipa foram muito mais baixos que o habitual: cometeu apenas nove faltas (diante de um adversário que teve 67% de posse!) e, mesmo diante de um rival com um volume ofensivo muitíssimo superior, somou menos intercepções (10 contra 12).
Os duelos, uma dimensão do jogo em que o FC Porto é especialmente capaz, também foram favoráveis ao Liverpool (51 contra 57), traduzindo amiúde uma circulação mais rápida e eficaz dos visitantes, que fez com que a equipa portuguesa chegasse invariavelmente atrasada ao portador. Só nos despiques aéreos se registou algum equilíbrio (17-16 favorável aos “dragões”), parâmetro esbatido pela maior eficácia dos “reds” no capítulo do passe (75% contra 86%, num total de 233 contra 551), que lhes permitiu gerir o jogo com conforto.
Foram estes indicadores demasiado confrangedores (e que contrariam o que sucedera diante do Atlético, em Madrid, na 1.ª jornada) que levaram Sérgio Conceição a apontar o dedo à equipa e a sugerir uma reunião com a direcção. E se é verdade que as ausências forçadas de Pepe e Otávio retiraram qualidade ao FC Porto, não poderão esconder as debilidades evidenciadas por um “onze” que, ontem, juntou demasiados jogadores (Diogo Costa, Zaidu, Fábio Cardoso, Fábio Vieira, Toni Martínez) sem experiência acumulada num palco como o da Champions.