CDU não fará acordos formais para garantir governabilidade de câmaras

Comunistas vão analisar caso a caso e, independentemente das propostas, votarão “com autonomia”, garante Jerónimo de Sousa, que é contra “concepções frentistas”.

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LUSA/RODRIGO ANTUNES

Nem com PS nem com PSD — independentemente da cor política de quem ganhou a câmara municipal, a CDU não fará acordos escritos para garantir a governabilidade das autarquias, antes analisará caso a caso o que tiver de votar. A garantia foi dada nesta quarta-feira de manhã pelo secretário-geral do PCP durante uma conferência de imprensa sobre a reunião do comité central do partido, que serviu para analisar os resultados das eleições autárquicas e a situação do país em vésperas de entrega do Orçamento do Estado.

“Não faremos acordos, naturalmente existirão momentos de convergência...”, vincou, quando questionado sobre a estratégia e posicionamento da CDU em municípios em que os seus eleitos possam ser essenciais para a governabilidade — como é o caso de Lisboa, Sintra, Almada ou Loures. “Mas em termos de acordos escritos nós consideramos que não estão criadas as condições para criar qualquer concepção frentista, antes pelo contrário. A CDU gerirá a sua votação, os seus votos e posições para conseguir objectivos, incluindo convergindo com outros que estejam disponíveis para essa posição construtiva que nas autarquias tem sempre um valor muito elevado”, acrescentou o líder comunista.

Quem deixou no ar o desafio para uma espécie de frente de esquerda para Lisboa, de forma a combater a direita, que, com Carlos Moedas, afastou Fernando Medina, foi a líder bloquista Catarina Martins, mas a ideia não parece agradar aos comunistas. “As autarquias, pelo seu carácter próprio, não podem ser comparadas com as eleições legislativas e decidir em conformidade com o seu resultado”, começou por salientar Jerónimo de Sousa, numa implícita comparação com a chamada “geringonça” de 2015 na Assembleia da República.

“Aquilo que nos anima, mais do que qualquer concepção frentista, é, perante problemas e propostas concretas, assim decidiremos e determinaremos com a nossa própria autonomia: tudo o que acharmos positivo para as populações, independentemente da origem da proposta, terá a nossa posição a favor; aquilo que for para contrariar os interesses das populações, independentemente dos proponentes, votaremos contra o que nos parecer negativo.”

Sobre os resultados de domingo, Jerónimo de Sousa repetiu o que João Oliveira, líder parlamentar e membro do comité central, havia afirmado em comunicado na segunda-feira: a CDU continua a ser a terceira força política autárquica, obteve cerca de 451 mil votos e 9,1% da votação (para as assembleias de freguesia, já que para as câmaras municipais foi um ponto mais baixo), e foi alvo de “factores adversos”, como uma “prolongada e intensa campanha anticomunista, a menorização deliberada da CDU e a desfocagem da natureza e objectivos destas eleições”.

Questionado sobre se o crescimento do PSD nas eleições irá motivar uma atitude mais colaborativa do PCP com o PS no Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) para evitar uma crise política, Jerónimo de Sousa recusou liminarmente esse cenário: “Não. A crise política deixa de estar em cima da mesa quando os problemas estiverem resolvidos e esta é uma lição e ensinamento da vida política nacional (...) e isso pressupõe os conteúdos e aquilo que se discute e aprova ou desaprova.”

O líder comunista garantiu que o PCP não faz “ligação de uma coisa [crescimento do PSD] com a outra [viabilização do OE2022 por parte do PCP para salvar o PS]. Tudo tem um valor próprio; tudo tem o sítio certo e é isso que determinará o nosso posicionamento”.

“Nunca diabolizámos o PSD, tendo em conta o seu papel nas autarquias locais; naturalmente, com grandes divergências que são insanáveis, mas se esta ou aquela medida do PSD for positiva acompanharemos. É muito difícil, mas não é raro isso acontecer.”

Sobre o OE2022, Jerónimo de Sousa avisa: “O PCP não diz ‘não’ só porque não, nem diz ‘sim’ só porque sim. É em conformidade com opções e conteúdos.” E esses conteúdos são muitos, desde o investimento no SNS aos aumentos de pensões, da rede de creches públicas à universalização do abono de família, do reforço da escola e dos transportes públicos à redução dos preços da energia (e combustíveis), de um alívio de impostos para rendimentos mais baixos até à tributação de patrimónios elevados, do apoio às MPME até aos novos apoios para combater as consequências da pandemia.

Mas o líder comunista também avisa que o país precisa de “uma amplitude de respostas” que o PS recusou dar desde sempre, que “estão para lá da discussão do próximo orçamento” e que são estruturais. 

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