Coreia do Norte anuncia teste com míssil hipersónico
A tecnologia norte-coreana não é comparável à dos EUA, Rússia e China, segundo os especialistas sul-coreanos. Mas pode ser suficiente para ameaçar alvos mais próximos na Coreia do Sul e no Japão.
A Coreia do Norte realizou um teste com um novo míssil hipersónico no início da semana, avança a agência de notícias oficial norte-coreana, a KCNA. A confirmar-se a informação, o país junta-se a um pequeno grupo de potências que estão a trabalhar no desenvolvimento deste avançado sistema de armamento.
Segundo o Exército da Coreia do Sul, o lançamento do míssil do lado da Coreia do Norte foi feito na costa Este do território em direcção ao mar. Ao mesmo tempo, Pyongyang exigiu aos Estados Unidos e à Coreia do Sul que abandonem “o jogo duplo” em relação aos programas de defesa, e que aceitem regressar à mesa de negociações.
A Coreia do Norte tem vindo a desenvolver o seu armamento enquanto dura o impasse nas conversações com vista ao desmantelamento do seu programa nuclear e do seu sistema de mísseis, em troca do alívio das sanções norte-americanas. Durante a Administração Trump, o ex-Presidente dos EUA chegou a reunir-se duas vezes com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, mas a situação não mudou.
Ao contrário dos mísseis balísticos, que são lançados para o espaço antes de reentrarem na atmosfera em trajectórias íngremes, as armas hipersónicas viajam a altitudes mais baixas e podem atingir cinco vezes a velocidade do som, ou cerca de 6200 quilómetros por hora.
A julgar pela informação recolhida pela Coreia do Sul, o míssil hipersónico do Norte está nas fases iniciais de desenvolvimento, e o país precisará de “um período de tempo considerável” até conseguir juntá-lo ao seu arsenal, avança a Reuters.
Na notícia sobre o lançamento de teste, a KCNA descreve o míssil hipersónico — o Hwasong-8 — como “uma arma estratégica” que aumenta a capacidade de defesa da Coreia do Norte.
“No primeiro lançamento, os cientistas da defesa nacional confirmaram a estabilidade e o controlo do míssil”, diz a agência de notícias norte-coreana.
Próxima geração
As armas hipersónicas são vistas como a próxima geração de armamento, com o objectivo de limitar o tempo de reacção e a capacidade de resposta dos inimigos.
O teste norte-coreano pode significar que o país está a acelerar a sua entrada numa corrida que envolve os EUA, a Rússia e a China.
Na segunda-feira, os EUA anunciaram a realização de um teste, com sucesso, de uma arma hipersónica que viaja a cinco vezes a velocidade do som. A confirmar-se, é o primeiro teste bem-sucedido desde 2013.
Em Julho, a Rússia realizou um teste, também com sucesso, do seu míssil de cruzeiro hipersónico Tsirkon, uma arma que o Presidente russo, Vladimir Putin, diz ser parte de um sistema sem paralelo no mundo.
Chang Young-keun, um especialista na Universidade Aeroespacial da Coreia do Sul, disse que o teste da Coreia do Norte terá falhado, já que a velocidade registada foi Mach 2.5, ou cerca de 3000 quilómetros por hora.
“A tecnologia hipersónica do Norte não é comparável à dos EUA, da Rússia ou da China. Por agora, o objectivo parece ser atingir alvos mais próximos, como a Coreia do Sul e o Japão”, disse Chang à agência Reuters.
Na semana passada, o Governo da Coreia do Norte disse que admite participar numa nova cimeira com a Coreia do Sul, depois de o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, ter apelado a uma declaração formal do fim da guerra de 1950-1953.
As negociações sobre o programa nuclear da Coreia do Norte, iniciadas pelo ex-Presidente dos EUA Donald Trump e pelo líder norte-coreano Kim Jong-un em 2018, estão congeladas desde 2019.