OMS dá luz verde a tratamento para a covid-19 e apela a que seja disponibilizado de forma justa

Combinação de anticorpos monoclonais poderá ser usada para dois grupos de doentes. Mas tem o problema de ser um produto caro e que não é fabricado em grandes quantidades, diz a Organização Mundial de Saúde.

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Esta combinação de anticorpos monoclonais tem de ser administrada por via intravenosa Reuters/PEDRO NUNES

A Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu uma recomendação para o uso combinado de dois anticorpos monoclonais (casirivimab e imdevimab) para o tratamento de dois grupos específicos de doentes de covid-19: os que apesar de não terem as formas mais graves da doença correm maior risco de necessitar de internamento, e aqueles que estão gravemente doentes e são seronegativos, ou seja, que não conseguiram produzir anticorpos contra o coronavírus.

As orientações produzidas por um grupo de peritos a trabalhar para a OMS são publicadas esta semana na revista British Medical Journal (BMJ). Segundo um comunicado de imprensa da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que também já deu luz verde ao uso deste tratamento, o casirivimab e o imdevimab são anticorpos monoclonais – um tipo de proteínas que foram manipuladas para que sejam capazes de reconhecer e de se ligar a estruturas específicas, denominadas antigenios. Quando combinados estes dois anticorpos – num produto também conhecido REGN-COV2, produzido pela empresa Regenron – estes ligam-se à proteína da espícula do vírus SARS-CoV-2 e impedem-no de infectar as nossas células.

A primeira recomendação da OMS baseia-se em três ensaios clínicos que ainda não foram submetidos a avaliação pelos pares, mas que mostram que a combinação de casirivimab e imdevimab parece reduzir o risco de hospitalização e duração dos sintomas nas pessoas que estão mais em risco de ficarem gravemente doentes com covid-19 – como quem não foi vacinado, quem for mais velho ou doentes imunodeprimidos.

Quanto à segunda recomendação, para os doentes que não conseguem produzir anticorpos contra o vírus, tem por base dados do ensaio clínico Recovery (que procura identificar novos medicamentos para os doentes de covid-19) que apontam para que este tratamento combinado reduza as mortes por doença (desde menos 49 por mil nos doentes graves até menos 87 por mil nos muito graves). Parece ainda diminuir a necessidade de ventilação mecânica neste grupo de doentes.

O tratamento é mesmo recomendado apenas para estes dois grupos de doentes. Para doentes de covid-19 com outras características, “os benefícios deste tratamento de anticorpos monoclonais provavelmente não serão significativos”, diz um comunicado da revista BMJ.

Este tratamento, no entanto, não é barato, e tem de ser administrado por via venosa, o que exige boas condições para a prática clínica e pessoal médico com formação. No caso dos doentes que não conseguem produzir anticorpos, é preciso comprová-lo antes por análises. Por isso, a OMS apela a “um acesso justo à combinação de casirivimab e imdevimab para a covid-19”. O apelo é lançado tanto aos governos como à empresa que o produz, tanto por causa do preço alto como da produção limitada desta combinação de anticorpos monoclonais.

“Dado o preço elevado e a baixa disponibilidade desta terapia de combinação, a OMS apela à Regeneron para baixar os preços e distribui-la de forma justa por todas as regiões, em especial nos países de baixos e médios rendimentos”, diz o comunicado. É feito ainda um apelo à “transferência de tecnologia para permitir que sejam produzidas versões biossimilares (medicamentos biológicos desenvolvidos para serem semelhantes a um medicamento biológico já existente).

Na União Europeia, além da combinação de casirivimab e imdevimab, a EMA já autorizou também a combinação de anticorpos monoclonais bamlanivimab e etesevimab, para tratar pacientes de covid-19 que não precisem de oxigénio mas corram o risco de sofrer de uma forma grave da doença. A Comissão Europeia assinou em Junho um contrato com a Eli-Lilly, a empresa que produz esta combinação, para a sua aquisição. A EMA está a avaliar ainda outros três tratamentos de anticorpos monoclonais para a covid-19.

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