Jorge Sampaio, “um por todos”

Quem actua no espaço público, não pode resignar-se perante as desigualdades, ser complacente com a falta de exigência própria ou dos outros, desdenhar do esforço de todos os dias para solidificar o bem comum.

O lema da campanha que Sampaio venceu para as eleições presidenciais de 1996 era “Um por todos”. Esta citação do romance de Dumas propositadamente amputada ilustra bem o sentido que o trouxe à política, desde os bancos da Faculdade.

Recordo-me de que, quando se candidatou à Câmara de Lisboa, muitos se interrogavam sobre se uma propensão para a reflexão antes da acção, fazendo dele um “teórico”, não o desqualificaria para a função. Nada mais errado, como se viu. Sampaio não era um teórico, embora fosse um homem informado e sobretudo alguém cuja curiosidade intelectual era tão genuína como contagiante. Nenhum tema, por mais árido ou especioso, lhe parecia desmerecedor de atenção, nenhum relatório era menosprezado, nenhuma exposição ou debate lhe parecia inútil.

De resto, era um político de acção, sem deixar de ser um político sofisticado, como rapidamente, se percebeu, desde a constituição da coligação que permitiu a sua vitória em Lisboa e a condução segura da modernização da capital. E como o foi em Belém, numa década em que fez da Presidência um centro operativo em que partidos, sindicatos, autarquias, organizações empresariais, instituições fortes puderam ter acesso directo a informação relevante, por vezes a espaço de negociação e arbitragem e à palavra de orientação do próprio Presidente.

Jorge Sampaio gostava de invocar a memória do Pai, alguém de quem recebera como exemplo um sentido determinante do serviço público. “Que posso eu fazer pelos meus concidadãos?” Reunir os dados que permitam interpretar as situações problemáticas, juntar esforços para as enfrentar, convocar quem tem o conhecimento e o poder para as resolver. Não deixar ninguém de fora. Quem actua no espaço público, não pode resignar-se perante as desigualdades, ser complacente com a falta de exigência própria ou dos outros, desdenhar do esforço de todos os dias para solidificar o bem comum.

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