Partido no poder desde 2011 sofre derrota estrondosa nas eleições legislativas de Marrocos

O PJD, que liderava a coligação governativa, caiu de 125 assentos parlamentares para 12. O partido liberal RNI, liderado pelo multimilionário Aziz Akhannouch, foi o mais votado, conseguindo 97 dos 395 lugares na Câmara dos Representantes.

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As eleições legislativas de Marrocos registaram mais de 50% de participação ABDELHAK BALHAKI/Reuters

O Partido da Justiça e Desenvolvimento (PJD), islâmico moderado, que liderava a coligação governativa em Marrocos desde 2011, foi derrotado por larga margem nas eleições legislativas. O grande vencedor foi o partido liberal União Nacional de Independentes (RNI), liderado por Aziz Akhannouch, ministro da Agricultura e Pescas, multimilionário e próximo do rei marroquino.

Segundo os dados avançados pelo Ministério do Interior na madrugada de quinta-feira, o RNI conseguiu 97 dos 395 assentos parlamentares. A segunda força mais votada foi o Partido da Autenticidade e Modernidade (PAM), com 82 deputados, seguido do partido conservador Istiqlal (78 assentos), da União Socialista das Forças Populares (35 lugares), do Partido do Progresso e Socialismo (20) e a União Constitucional (18).

A somar à vitória do RNI, a grande surpresa destas eleições foram os meros 12 assentos alcançados pelo PJD. A reviravolta torna-se mais visível se se olhar para os resultados das últimas legislativas: em 2016, o PJD conseguira 125 assentos, enquanto o RNI elegera apenas 37 deputados.

Na quarta-feira, o PJD acusou os rivais de comprar votos, sem apresentar provas ou adiantar detalhes. Apesar de ter sido o maior partido desde 2011, o PJD foi fiel ao palácio real, sendo por vezes incapaz de bloquear as leis às quais se opunha.

Outro momento que também terá sido fatal para o futuro do partido foi o apoio, em 2020, à normalização dos laços com Israel, depois de um acordo entre Marrocos, Israel e os EUA, com o então Presidente norte-americano, Donald Trump, a reconhecer a soberania de Rabat sobre o Sara Ocidental.

Apesar das restrições sanitárias, também a participação eleitoral subiu. Votaram 7,8 milhões de eleitores, dos 18 milhões de inscritos, com 50,18% de participação, superior aos 42% de 2016, e aos 45% de 2011. Os analistas relacionam a maior participação ao efeito de arrasto da realização simultânea das eleições regionais e locais, que também decorreram na quarta-feira, em que os candidatos costumam ser mais conhecidos e por isso atraem mais eleitores.

Sem mudanças à vista

O partido vencedor terá agora de começar as negociações para formar uma nova coligação governamental. O novo chefe de Governo terá de ser aprovado pelo monarca marroquino, Mohamed VI. O líder do RNI não apresentou a sua candidatura à liderança do Governo, apenas para presidente da Câmara de Agadir. O monarca pode, ainda assim, nomeá-lo para líder do executivo.

Mas se havia alguma esperança, especialmente entre os mais novos, que as eleições trouxessem um futuro diferente (nomeadamente para combater os efeitos provocados pela pandemia), não é provável que grandes mudanças ocorram. Como explicou Saloua Zerhouni, professora de ciência política em Rabat, “a monarquia vai continuar a controlar os partidos políticos, a minar o poder do Governo e do Parlamento e posicionar-se como a única e efectiva instituição política”, citou o New York Times.

Apesar de Marrocos ser uma monarquia constitucional, e de o rei ter efectuado algumas cedências após a Primavera Árabe, Mohamed VI continua a deter a maioria dos poderes. Controla os ministérios do Interior, dos Negócios Estrangeiros e dos Assuntos Religiosos e determina também as políticas económicas do reino.

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