Desastres provocados pelo clima afectaram quase um em cada três americanos este Verão
Responsáveis dizem ao Washington Post como não há memória de um Verão com mais emergências do que este, com furacões, cheias, incêndios, e ondas de calor.
Quase uma em cada três pessoas nos Estados Unidos vivem num condado atingido por um desastre ligado ao clima, segundo dados do jornal norte-americano The Washington Post, como cheias, furacões, ou incêndios.
Além disso, 64% vivem em zonas que tiveram ondas de calor extremo durante vários dias, um fenómeno que não é considerado oficialmente um desastre, mas que é uma das formas mais perigosas de condições meteorológicas extremas, nota o jornal.
Desde Junho, morreram pelo menos 388 pessoas por causa destes fenómenos que estão ligados às alterações climáticas, segundo o jornal. Muitas morreram nas suas casas: com calor extremo no Noroeste do país em casas que não conseguiram arrefecer, ou com águas das cheias que entraram com violência nas casas sem dar margem para fuga.
O jornal diz que sensação de vulnerabilidade da América é notória, citando o antigo director da agência federal de emergência e protecção civil (FEMA, na sigla em inglês) Craig Fugate que diz nunca ter visto um verão com tantas crises como este. Fugate questiona-se se este Verão poderá ser o ponto de viragem na opinião pública, que obrigue os políticos a agir. “Se não, o que será preciso?”
O artigo é publicado quando acabou de passar pelo país o furacão Ida, que já é o segundo que mais estragos fez no Louisiana, sendo superado apenas pelo Katrina. O furacão deixou mais de 50 mortos.
Uma pessoa foi morta a tiro numa disputa numa bomba de gasolina. “Alguém perder a vida por uma questão de pôr gasolina é totalmente ridículo”, disse o xerife de Metairie, onde ocorreu o crime, Jospeh Lopinto, citado pelo diário britânico The Guardian.
Até pessoas que já passaram por vários desastres dizem que os recentes são os piores que já viveram. “Pessoas que nunca se consideraram em risco por causa de alterações climáticas estão de repente a ver águas de cheias do lado de fora das suas janelas e fumo no céu, perguntando-se se há algum lado seguro”, dizia o texto do Washington Post.
O jornal diz que o teste ao significado deste verão será se os Estados Unidos conseguem diminuir de modo significativo as suas emissões que contribuem para o aquecimento global.
O mundo precisa que as emissões sejam reduzidas até cerca de metade para que haja uma hipótese de evitar os efeitos piores do aquecimento global, avisou recentemente o relatório do IPCC das Nações Unidas.
Os EUA foram o país que mais contribuiu para o aquecimento global a partir da era industrial: um quarto do dióxido de carbono extra que foi lançado para a atmosfera desde então veio de americanos a queimar combustíveis fósseis.
O planeta aqueceu dois graus Celsius desde os tempos pré-industriais – para pôr esse aumento em perspectiva, o presidente do IPMA, Miguel Miranda, explicava numa entrevista ao PÚBLICO que dois graus é um grande aumento – “estamos a falar de metade de um ciclo glacial”, ou seja: “Se não conseguirmos parar isto, fabricamos num século um ciclo de cem séculos”, alertou.
O processo é como uma bola de neve a rolar por uma encosta: “Saímos do clima de partida e não sabemos a que clima vamos chegar”, disse ainda Miguel Miranda. A dada altura, “há de haver um ponto em que a bola não vai parar”, mas não se sabe se esse já foi passado ou se será possível não só diminuir a velocidade da bola como pará-la.