Redes sociais recompensam raiva e indignação

Uma série de estudos de investigadores da Universidade de Yale prova que os gostos (“likes”) e as partilhas levam as pessoas a exprimir mais indignação online.

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As mensagens com exemplos de discurso indignado recebem mais atenção Stephen Lam

Escrever publicações em que a indignação é o sentimento dominante — por exemplo, um texto a culpar alguém de algo, ou a manifestar raiva, repugnância e desprezo — está a tornar-se mais comum porque esse tipo de discurso é recompensado com “gostos” e partilhas. Particularmente se o tema é política. A conclusão é de um grupo de investigadores da Universidade de Yale, nos EUA, que analisaram mais de 12,7 milhões de publicações no Twitter publicadas desde 2017 para perceber se as funcionalidades das redes sociais afectavam o comportamento dos seus utilizadores.

Os resultados foram publicados este mês na revista académica Science Advances. “Isto são as primeiras provas de que algumas pessoas aprendem a expressar mais indignação ao longo do tempo porque são recompensadas pelo design das redes sociais”, resumiu William Brady, investigador do departamento de psicologia de Yale e líder da investigação, na apresentação dos resultados.

O objectivo de Brady com o trabalho era perceber se havia provas de que redes sociais, como o Twitter e o Facebook, amplificam sentimentos de discórdia. Regra geral, as plataformas tecnológicas argumentam que se limitam a fornecer um espaço para o debate que já acontece noutros locais. 

Para ver se as redes sociais estavam a menosprezar o seu papel, a equipa de Brady criou um sistema de inteligência artificial (o Digital Outrage Classifier, ou DOC) dedicado a monitorizar publicações de “indignação moral” no Twitter face a tópicos que geraram polémica nos EUA. Por exemplo, as acusações de assédio do juiz Brett Kavanaugh e a proibição de militares transgénero nas Forças Armadas em 2019.

Ao analisar quase 13 milhões de publicações de mais de sete mil utilizadores, o DOC mostrou que os utilizadores que recebiam mais partilhas e gostos quando exprimiam indignação nas suas publicações, tendiam a aumentar este tipo de discurso. Os algoritmos de Brady consideravam “indignação” quando alguém se manifestava devido a “uma alegada infracção” de valores, nomeadamente com recurso a “sentimentos de raiva, repugnância ou desprezo” ou com o intuito de culpar ou castigar outras pessoas. 

As conclusões do DOC foram testadas com experiências comportamentais. Os investigadores pediram a 240 participantes para analisar conjuntos de 12 publicações no Twitter e escolher a publicação que seria mais popular online. As mensagens com exemplos de indignação ganharam.

Este mecanismo de reforço também promove posições mais extremistas. “Os nossos estudos mostram que as pessoas com amigos e seguidores politicamente moderados são mais sensíveis ao reforço social que reforça as expressões de indignação”, disse Molly Crockett, co-autora do estudo e professora de psicologia em Yale. “Isto sugere um mecanismo [que explica] como grupos moderados se tornam radicalizados ao longo do tempo.”

Os investigadores reconhecem que o estudo tem limitações. “Os utilizadores do Twitter não são representativos da população em geral”, escrevem.“No entanto, [os utilizadores do Twitter] representam uma proporção alta de jornalistas e figuras públicas que têm uma influência maior no debate público e nas narrativas que os rodeiam.”

A equipa de Yale acentua que o objectivo do estudo não é determinar se a “indignação moral” — online ou offline — é má para a sociedade. “A amplificação da indignação moral é uma consequência clara do modelo de negócio das redes sociais”, clarifica Molly Crockett. “Temos de estar conscientes que as empresas de tecnologia têm a capacidade de influenciar o sucesso ou as falhas de movimentos sociais.”

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