OMS vai avaliar três medicamentos para tratar a covid-19
Organização Mundial da Saúde retoma ensaios Solidarity, que desta vez se realizarão em 52 países. Objectivo é perceber se drogas já aprovadas podem ser usadas para tratar os efeitos do coronavírus no organismo.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai retomar os ensaios clínicos de medicamentos que podem ter utilidade para tratar a covid-19. O ensaio Solidarity PLUS vai testar três medicamentos que já são usados para outras doenças, para verificar se podem ter utilidade para tratar os efeitos da covid-19: o artesunato, que é usado para tratar casos graves de malária; o imatinib, utilizado para quimioterapia por via oral para tratar alguns cancros; e o infliximab, um medicamento usado para combater a inflamação em várias doenças auto-imunes, como a artrite reumatóide e a doença de Crohn.
Tentar descobrir se medicamentos já existentes poderão ser úteis para tratar uma doença nova como a covid-19 é o objectivo desta iniciativa. Afinal, são poucos os medicamentos que temos para tratar a doença provocada pelo SARS-CoV-2 salientou o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa online onde foi apresentada a iniciativa: o corticoesteróide dexametasona, que reduz a reacção inflamatória – identificado através do estudo britânico RECOVERY, que é semelhante ao Solidarity PLUS, da OMS, e identificou a dexametosona no Verão de 2020 –, os bloqueadores da interleucina 6, e o oxigénio.
Participam nesta plataforma de ensaios clínicos 52 países em mais de 600 hospitais – são mais 16 países do que na primeira fase, em 2020, quando o Solidarity Therapeutics Trial testou o antiviral remdesivir, a hidroxicloroquina (antimalárico e usado para tratar algumas doenças auto-imunes), a associação dos antirretrovirais lopinavir/ritonavir e o uso de interferões (uma proteína que interfere na replicação de fungos, vírus, bactérias e células de tumores e estimula a actividade de defesa de outras células). Os resultados, para todos estes medicamentos, foram negativos: todos tiveram efeito nulo, ou praticamente nulo, na redução da mortalidade a 28 dias, em doentes hospitalizados. Os resultados definitivos devem ser publicados em breve, disse Tedros Ghebreyesus.
Este modelo de ensaio clínico, em que participam hospitais e centros clínicos de muitos países, permite testar vários tratamentos ao mesmo tempo utilizando o mesmo protocolo, em milhares de pacientes, obtendo resultados de uma forma muito mais rápida e eficaz. O ensaio deve decorrer até Maio de 2022 e pretende-se verificar que efeitos podem ter estes medicamentos sobre a mortalidade dos pacientes, bem como sobre o momento em que podem necessitar de ventilação, duração do internamento em pacientes de menor e de maior risco.
Os medicamentos que vão ser agora testados foram seleccionados por um grupo independente de peritos, que considerou terem características que os podem tornar interessantes a nível terapêutico contra a covid-19. As farmacêuticas que os produzem oferecerão os medicamentos para os ensaios clínicos, salientou Tedros Ghebreyesus. Portugal é um dos países em que serão recrutados participantes para este ensaio clínico.
O artesunato, fabricado pela Ipca, é um derivado da artemisinina, um antimalárico derivado da planta Artemisia annua, que tem sido usado para tratar a malária e outras doenças causadas por parasitas nas últimas três décadas. Mas neste ensaio serão avaliadas sobretudo as suas capacidades como anti-inflamatário. Será administrado de forma intravenosa, durante sete dias, na dose recomendada para o tratamento da malária grave, diz um comunicado da OMS.
O imatinib, produzido pela Novartis, é um inibidor da tirosina-quinase, enzimas envolvidas em várias funções das células, como o seu crescimento e a divisão celular. São anormalmente expressas em grandes quantidades se há cancro, por isso este inibidor da tirosina-quinase é usado para tratar alguns cancros. Há dados experimentais que indicam que pode reverter o derrame dos vasos capilares dos pulmões – um ensaio clínico feito na Holanda indicou que poderia beneficiar doentes de covid-19. Será administrado oralmente uma vez por dia, durante duas semanas. É igual a dose de manutenção para pessoas que tiveram cancros do sangue.
O infliximab, fabricado pela Johnson & Johnson, é um anticorpo monoclonal quimérico usado para tratar doenças do sistema imunitário. É um inibidor do factor-alfa de necrose tumoral, citocinas que conseguem provocar a morte celular dos tumores e que têm acção anti-inflamatória. Este tipo de medicamentos é usado há duas décadas para reduzir a inflamação em várias doenças auto-imunes, incluindo em populações com mais idade – como as que são mais vulneráveis à covid-19.