Detido em Berlim britânico suspeito de espiar para a Rússia

Detenção acontece quando a actividade de espionagem russa na Alemanha está “em níveis da Guerra Fria” na aproximação das eleições legislativas, segundo a avaliação recente dos serviços secretos alemães

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O funcionário da embaixada britânica detido em Berlim por suspeita de epionagem não tem imunidade diplomática Fabrizio Bensch/Reuters

A polícia alemã deteve um britânico de 57 anos, que trabalhava na embaixada do Reino Unido em Berlim, por suspeitar de que passava documentos aos serviços de espionagem russos em troca de dinheiro, segundo a agência Reuters.

“Em pelo menos uma ocasião, passou documentos que obtivera no decurso das suas actividades profissionais a um representante dos serviços de informação da Rússia”, disse o gabinete do procurador do Ministério Público. “O acusado recebeu dinheiro, numa quantia ainda não determinada, em troca da sua transmissão de informação.” O acusado será presente a tribunal ainda durante esta quarta-feira.

A detenção do funcionário, que vive em Potsdam, parte da área metropolitana de Berlim/Brandemburgo, e não tem imunidade diplomática, resulta de uma investigação conjunta das autoridades britânicas e alemãs.

O diário britânico The Guardian disse que a investigação envolveu agentes de contraterrorismo da Scotland Yard.

A detenção acontece pouco depois de Thomas Haldenwang, o chefe do Gabinete para a Protecção da Constituição (BfV, a agência de espionagem e informação interna da Alemanha), ter dito que a espionagem russa na Alemanha estava “a níveis da Guerra Fria”.

Numa entrevista ao jornal alemão Welt am Sonntag, há cerca de um mês, Thomas Haldenwang disse que Moscovo “aumentou significativamente a sua actividade”, até “um nível que só conhecíamos da era da Guerra Fria”.

Além disso, apontou, “os métodos estão a tornar-se mais duros e os meios mais brutais”, declarou Haldenwang, mencionando o assassínio de um cidadão da Geórgia de etnia tchetchena em Berlim em 2019, que a agência acredita ter sido levado a cabo por agentes russos.

A desinformação da Rússia na Europa tem-se centrado na Alemanha: segundo o relatório europeu EUvsDisinfo, publicado em Março, a Alemanha é alvo de mais campanhas de desinformação russa do que todos os outros países da União Europeia juntos.

Desde 2015, a base de dados EUvsDisinfo identificou mais de 700 casos de desinformação russa na Alemanha, enquanto em França foram detectadas 300, em Itália cerca de 170 e em Espanha mais de 40.

A versão alemã do canal russo Russia Today (RT DE), que, como diz a revista Der Spiegel, basicamente dissemina propaganda russa desde 2014, ganhou um novo fôlego com a pandemia e está a ser formalmente investigada por espalhar informação falsa, incluindo a alegação de que o vírus que provoca a covid-19 não existia.

A revista fez um artigo sobre a RT DE em Março e não conseguiu saber, por exemplo, quantas pessoas trabalhavam na estação. Apenas soube que estavam a recrutar mais — “mesmo a tempo, claro, das próximas eleições legislativas em Setembro”, comentava.

Wolfgang Schäuble, que é o presidente do Parlamento alemão, expressou recentemente preocupação com interferência estrangeira nas eleições de Setembro: “Há um perigo relativamente grande.” Schäuble notou, numa entrevista à agência de notícias DPA, que há uma parte substancial da população que, ainda que bem integrada no país, consome informação de media estrangeiros como a RT e que, por isso, “o estado da liberdade de imprensa em países como a Rússia e a Turquia também influencia os eleitores na Alemanha”.

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