Governador de Nova Iorque demite-se após queixas de assédio sexual

Andrew Cuomo resistiu uma semana à divulgação de um relatório em que 11 mulheres o acusam de assédio sexual e de intimidação no local de trabalho.

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Cuomo foi eleito pela primeira vez em 2010 Reuters/POOL

O governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, anunciou que vai abandonar o cargo por sua iniciativa, uma semana depois da publicação de um relatório em que é alvo de “queixas credíveis de assédio sexual”, segundo a procuradora-geral do estado norte-americano.

A demissão, que Cuomo agendou para dentro de duas semanas, tem como consequência a subida de Kathy Hochul ao cargo de governadora de Nova Iorque. Hochul, uma advogada de 62 anos, vai ser a primeira mulher a liderar o governo do estado norte-americano desde a primeira eleição para o cargo, em 1777.

Cada vez mais sozinho, e em risco de ficar na História como o primeiro governador de Nova Iorque a ser destituído no último século — e apenas o segundo na História, depois de William Sulzer, em 1913 —, Cuomo tomou a decisão que já lhe era exigida no Partido Democrata há meses, desde que foi alvo da primeira denúncia concreta de assédio sexual, em Fevereiro.

Esta terça-feira, numa conferência de imprensa, reafirmou que nunca teve a intenção de assediar nenhuma mulher. E repetiu a sua convicção de que também ele é uma vítima — de "grandes mudanças culturais e geracionais”, às quais, disse, não deu “o devido valor”.

“No meu entender, nunca pisei o risco com ninguém, mas não percebi o quanto esse risco tinha sido alterado”, disse Cuomo.

Numa resposta à justificação do governador, a activista e fundadora do movimento MeToo, Tarana Burke, criticou a tese de que houve uma “mudança das regras” no relacionamento entre homens e mulheres.

“Essa coisa da ‘diferença geracional’ e da ‘mudança de regras’ não faz nenhum sentido e é errada. As regras não mudaram. Era errado há 50 anos e é errado hoje. A diferença é que no passado havia poucos caminhos para uma responsabilização”, disse Burke na rede social Twitter.

Saída inevitável

Nos meses até à publicação das conclusões do inquérito ordenado pela procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, a posição de Cuomo no topo do governo do estado norte-americano foi ficando cada vez mais fragilizada, à medida que iam surgindo novas denúncias.

Os advogados que foram contratados pela procuradora-geral para liderar a investigação recolheram testemunhos de 11 mulheres, quase todas antigas e actuais funcionárias do governo de Nova Iorque.

A maioria dos casos diz respeito a denúncias de toques, apalpões e comentários de teor sexual contra a vontade das mulheres, feitos quase sempre em ambiente privado e, segundo os investigadores, com o conhecimento e a cobertura do círculo mais próximo do governador.

Para o relatório, com 165 páginas, foram ouvidas 179 pessoas e analisados 70 mil documentos, como e-mails e apontamentos. Na semana passada, na conferência de imprensa de apresentação do relatório, a procuradora-geral de Nova Iorque disse que todas as denúncias são “credíveis”.

No domingo, a principal conselheira de Cuomo, Mellisa DeRosa — citada no relatório 187 vezes e implicada num plano para descredibilizar umas das acusadoras —, anunciou a sua demissão e selou o futuro político do governador.

De herói a vilão 

Com a divulgação do relatório, o governador perdeu o pouco apoio que ainda tinha — primeiro na assembleia legislativa de Nova Iorque, onde se decide o impeachment, e onde o Partido Democrata está em maioria; e depois no Congresso dos EUA, com a líder da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, a exigir a sua demissão; e na Casa Branca, onde o Presidente dos EUA e seu amigo de longa data, Joe Biden, se juntou ao coro que começou a pedir o seu afastamento.

Cuomo, que chegou a ser tratado como um herói do combate à pandemia de covid-19, há pouco mais de um ano, sai para tentar evitar uma desgraça pessoal e política ainda maior — a sua destituição oficial, que ainda pode vir a acontecer, impede-o de voltar a candidatar-se a um cargo público.

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