Marrocos, 1973
Inspirada pelo relato do leitor João Pontífice Gaspar, a leitora Maria Clara Costa recorda também a sua viagem a Marrocos. E esta foi nos anos de 1970...
Na Fugas de 17 de Julho, li que o actual Provedor do Público, José Manuel Barata-Feyo, disse numa entrevista que “há dois tipos de homens no mundo: os que já atravessaram o deserto e os outros!” Imediatamente me veio à memória a viagem que, em campismo, eu e o meu marido fizemos em 1973. Passados tantos anos, ficámos a saber, com satisfação, que pertencemos ao “tipo de homens que atravessaram o deserto”
Partimos de Algeciras para Ceuta, seguimos para Tétouan, nosso primeiro contacto com um mundo bem diferente de tudo o que conhecíamos e podíamos imaginar. A medina a fervilhar de gente, homens e mulheres com djellabas e cabeças cobertas, foi o que mais me impressionou. Continuámos até Tânger, depois Rabat, onde visitámos o Mausoléu de Mohammed V. Seguimos para Casablanca, que nos encantou com a sua arquitectura, largas avenidas e sua medina. Partimos para Agadir e, no caminho, parámos em El Jadida. Logo surgiram duas crianças, uma delas com um bebé ao colo, convidando-nos para descermos, no escuro, as escadas que nos conduziram a uma porta da fortaleza aberta para o mar. Depois, levaram-nos até à pobre casa onde viviam. Nunca as esqueci e muitas vezes me pergunto o que será feito delas.
Continuámos a descer a Costa Atlântica até Agadir, cidade moderna, edificada após o terramoto de 1960. Daqui, partimos para Marraquexe por um acidentado e sinuoso caminho a subir até Tizi N’Test, a 2100 metros de altitude. Com emoção, registámos o local numa foto e continuámos viagem, observando pequenas aldeias e muitos quilómetros de deserto onde a ilusão de óptica nos fazia ver lagos a curta distância.
Marrocos, especialmente Marraquexe, foi uma grande surpresa, desde os aguadeiros aos encantadores de serpentes e à colocação de próteses dentárias em plena Praça Jemaa El Fna, tudo era inimaginável!
O Automóvel Club de Portugal deu-nos dois conselhos: não nos aventurarmos a circular fora de horas e tirarmos o P de Portugal do carro porque o país, devido à ditadura, não era bem visto.
Zagora, a sul de Marraquexe, despertou-nos a atenção por ter um hotel com piscina, onde poderíamos descansar uns dias. Assim, fizemos a trouxa e partimos às três da manhã, seguindo a estrada deserta, avistando fortalezas (kasbah), rios ladeados de palmeiras e um nascer do Sol a iluminar e a colorir o nosso solitário caminho.
Chegámos e logo um jovem nos abordou, perguntando em português se queríamos que ele nos acompanhasse até ao deserto e, à pergunta como sabia ele que éramos portugueses, logo apontou para a matrícula do carro. Aceitámos e seguimos viagem. No caminho, entrámos numa kasbah, visitámos a biblioteca com alguns séculos e seguimos para as dunas escaldantes onde os camelos esperavam os turistas.
De volta a Zagora, estando a piscina inoperante, resolvemos regressar a Marraquexe, onde chegámos cerca da meia-noite. Aqui, ainda com o deserto a bailar-nos na memória, juntámo-nos aos nossos familiares Paula, Renato e Regina para, em constante aventura, visitarmos mais algumas cidades a caminho de Portugal.
Maria Clara Costa