A vez dos cavalos
Num futuro que se deseja próximo, o uso de freios e bridões vai ser considerado um arcaísmo, uma lamentável batota na relação com o animal.
Já todos testemunhámos a alegria de um cão quando o felicitamos por ter aprendido a sentar-se, a fazer de morto ou a dar a pata. Os cães parecem ver nos humanos uma oportunidade de aprender coisas novas, como se farejassem um intercâmbio produtivo, o que fez com que domar os canídeos tenha sido – e seja – tarefa relativamente pacífica. O mesmo não se passa com os equídeos, que temos de primeiro domar pela força, por entre cabrestos, esporas e chicotes, e, peça de domínio fundamental, um freio a atravessar a boca, ligado às rédeas. Este equipamento metálico — com as variantes de bridão, freio-bridão e freio — assenta numa zona da cavidade bucal do cavalo que induz dor aguda, se o puxão for forte, ou ameaça de dor, se os puxões da rédea forem gentis. Esta suposta “arte da suavidade” do cavaleiro é por onde se esconde a perpetuação de um dispositivo que, em termos muito simples, magoa ou ameaça magoar. Aquilo que mais preocupa nas provas olímpicas de dressage não é a postura da cabeça do cavalo em si: é a existência de um freio na boca do animal, determinante para que assuma as posturas que lhe são exigidas.
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