Um momento de publicação independente: Manual para uma Saúde Trans Independente

Fanzines, edições de autor, livros de artista — nesta rubrica queremos falar de publicação independente. Odete apresenta Manual para uma Saúde Trans Independente.

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Apresenta-nos o teu fanzine.
A publicação Manual para uma Saúde Trans Independente é uma tradução da zine original de 2018 Building Towards an Autonomous Trans Healthcare do colectivo PowerMakesUsSick. A zine original pretendia revelar uma discussão e acção que andava a acontecer entre colectivos em torno de saúde trans, o que isso significa, que exigências é necessário fazer, enfim. A tradução foi feita por mim, Odete, no âmbito do festival Rama em Flor, um festival comunitário feminista queer que vai na sua terceira edição e que acontece em vários espaços de Lisboa. Contando com receitas herbais, entrevistas, manifestos, informação médica ou feitiços, o Manual para uma Saúde Trans Independente propõe partilhar um movimento de pensamento e acção em torno de saúde e cuidados trans independente das instituições médicas e farmacêuticas que, no fundo, pouco mais sabem do que nós. É uma zine que sinto que questiona os paradigmas da saúde trans, que torna clara a história das próprias medicações que nos são impingidas, a continuidade eugénica dessa história e uma demanda para melhorar os contextos de saúde: não só medicações em si, mas os seus meios de produção.

Quem são os autores?
Os autores variam, assim como os conteúdos. Para além dos conteúdos do colectivo PMS, da autora Nat Raha, dos manifestos de colectivos do UK e a imensa informação anónima, a versão traduzida da zine conta com três convidadas a residir em Portugal: Alice Azevedo, Dusty Whistles e Puta da Silva.

Do que quiseste falar?
Eu não queria falar de nada. Eu queria pensar em conjunto ou agir para além da fala. A zine propõe uma discussão muito incorporada. Não se trata aqui de falar ou discutir uma ideia ou assunto, mas de deixar o corpo exigir. Deixar o corpo ser o desespero. A demanda pela vida não é para ser falada, mas gritada. Mas era essencial para mim que se iniciasse um processo de entreajuda e do apoio dentro das comunidades trans. Sinto que o acesso à informação às vezes é limitado aqui em Portugal, principalmente quando tudo na internet é em inglês... então decidi traduzir esta zine para ver se ressoava, se ajudava alguém como me ajudou a mim. Conhecimento é poder, informação é poder neste caso. Porque não cuidam de nós temos que ser nós a cuidar de nós. É preciso subverter a nossa condição de dependentes.

Questões técnicas: quais os materiais usados, quantas páginas tem, qual a tiragem e que cores foram utilizadas?
A publicação é muito simples, não é a sua forma que importa, mas sim o conteúdo. A publicação tem as quatro primeiras páginas em cartolina amarela e o miolo branco. No total são cerca de 60 páginas. Os 600 exemplares foram impressos digitalmente a cores.

Onde está à venda e qual o preço?
O manual para uma saúde trans independente é de distribuição gratuita, tanto em formato físico como digital. Digital pode ser encontrada aqui. Em formato físico está disponível na sede da UMAR, no espaço Manta (Rádio Quântica, Mina e Rabbit Hole) e na Rua das Gaivotas 6, em Lisboa. O Colectivo Mula e o Espaço J no Barreiro também têm alguns exemplares. A partir de Agosto estará também disponível na associação Pathos, em Coimbra, e no Porto na Livraria Aberta, Centro Gis e colectivo Traça.

Porquê fazer e lançar publicações hoje em dia?
Tal como já dissemos antes, o único objectivo é dotar as pessoas de conhecimento. Ainda é escassa a informação sobre a saúde de corpos trans. A busca por estas formas alternativas de conseguir bem-estar sem depender das instituições de saúde é um caminho muitas vezes solitário e difícil e a zine vem tentar acelerar um pouco esta procura de outros tratamentos e de mostrar alternativas. O Rama em Flor é um festival comunitário e interseccional. Quando me chamaram para programar eu sabia que queria produzir algo que tivesse um efeito imediato na comunidade portuguesa de pessoas não-cisgénero, que permitisse criar laços, garantir que continuamos “juntes”, apesar deste cenário actual que obriga à distância. Esta foi a forma que encontrei de garantir a criação de uma rede de cuidados, de afectos, de uma ligação entre esta comunidade.

Recomenda-nos uma edição de autor recente lançada em Portugal.
Não sei bem o que se entende por edição de autor, mas recomendo muito a zine do Jesualdo: The Blacker the Berry. Pode ser encontrada no espaço Manta, da Rádio Quântica, em Lisboa.

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