Equipa com astrónomos portugueses descobre planetas que podem ter água
Três dos exoplanetas agora descobertos são rochosos e podem conter água no seu interior ou nas atmosferas: os dois planetas mais próximos da estrela são provavelmente secos, mas podem ter pequenas quantidades de água, enquanto o terceiro poderá ter até 30% da sua massa formada por água.
Uma equipa internacional de astrónomos, incluindo portugueses, descobriu um sistema de planetas fora do nosso sistema solar que podem ter água à superfície, no interior ou na atmosfera. A descoberta, para a qual contribuíram vários investigadores nacionais e estrangeiros do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), em Portugal, é descrita num artigo publicado esta quinta-feira na revista científica Astronomy & Astrophysics.
O sistema planetário em causa dista 35 anos-luz da Terra, é constituído possivelmente por cinco planetas (em dúvida está ainda o quinto planeta) que orbitam a estrela L 98-59 e foi observado com um espectrógrafo do telescópio VLT, operado no Chile pelo Observatório Europeu do Sul (OES), organização da qual Portugal faz parte. Segundo os astrónomos, três dos planetas extra-solares são rochosos e podem conter água no seu interior ou nas atmosferas: os dois planetas mais próximos da estrela são provavelmente secos, mas podem ter pequenas quantidades de água, enquanto o terceiro poderá ter até 30% da sua massa formada por água.
A equipa suspeita que exista um quinto planeta na chamada “zona habitável”, a uma distância da estrela que lhe permite ter água líquida na sua superfície (uma condição essencial para a vida tal como se conhece). “O planeta na zona habitável pode ter uma atmosfera que poderia proteger e sustentar a vida”, afirmou, citada em comunicado pelo OES, a astrónoma María Rosa Zapatero Osorio, do Centro de Astrobiologia de Madrid, em Espanha.
“Estamos, finalmente, a aproximarmo-nos cada vez mais da detecção de um planeta terrestre na zona habitável da sua estrela, do qual poderemos estudar a atmosfera”, sustentou, citado no mesmo comunicado, o primeiro autor do artigo, Olivier Demangeon, investigador do IA que liderou a análise de dados e descobriu o quarto e o possível quinto planeta. À agência Lusa, Susana Barros, igualmente investigadora do IA e autora do artigo científico, disse que, a confirmar-se em novas observações, este quinto planeta “pode ser um dos melhores candidatos” para o estudo de planetas fora do nosso sistema solar potencialmente habitáveis que estão “relativamente perto do Sol”.
No sistema L 98-59, o planeta mais interior terá metade da massa de Vénus, o que, de acordo com a equipa, torna-o no exoplaneta mais leve alguma vez medido com o método de velocidades radiais, que consiste em calcular a oscilação provocada numa estrela pela aceleração gravitacional de um planeta em órbita.
Para Susana Barros, trata-se de “um marco” fruto de “muitos anos de desenvolvimento instrumental com participação portuguesa e de desenvolvimento de técnicas de análise de dados também com forte participação de membros” do instituto onde trabalha, que tem liderado a “medição da composição de planetas parecidos com a Terra” com o espectrógrafo Espresso do telescópio VLT e a “caracterização das estrelas que os planetas orbitam”.
Os astrónomos já tinham detectado em 2019, com o telescópio espacial TESS, da agência espacial norte-americana NASA, três dos planetas, mas desconheciam que eram rochosos como a Terra e que podem conter água, o que só foi possível concluir graças às observações feitas com o instrumento do telescópio VLT, instalado no deserto chileno de Atacama.
Nuno Santos, investigador do IA que também participou no estudo, realçou à Lusa o “papel fundamental” da equipa do instituto no “desenvolvimento e construção do Espresso”, em parceria com a indústria, que lhe “permitiu estar na liderança desta descoberta”. A equipa internacional de astrónomos espera aprofundar o estudo dos planetas do sistema L 98-59, em particular as suas atmosferas para detectar bioassinaturas de vida, com os telescópios James Webb, com lançamento previsto para o espaço no final de 2021, depois de sucessivos adiamentos, e ELT, o maior telescópio ótico do mundo em construção no Chile e com “mão” científica e tecnológica portuguesa.