Tencent limita menores na China a 60 minutos de videojogos por dia
Em causa está um artigo publicado esta semana no site de notícias estatal Xinhua que classifica os videojogos como “ópio espiritual” para os jovens que motivou preocupações de que o videojogos sejam o próximo alvo de Pequim.
A tecnológica Tencent está a introduzir novas restrições nos seus serviços de videojogos na China: agora, os menores de 18 anos só podem passar 60 minutos por dia nas plataformas de videojogos e os menores de 12 anos não podem gastar dinheiro em jogos online. Ferramentas de reconhecimento facial, introduzidas no último ano, garantem que os jovens não conseguem fugir às regras através de contas de utilizadores adultos. Em causa está um artigo publicado esta semana no site de notícias estatal Xinhua que classifica os videojogos como “ópio espiritual” para os jovens.
As acções da Tencent, que detém parte da Epic Games (criadora do Fortnite), caíram cerca de 11% na terça-feira depois do texto da Xinhua concluir que Pequim não pode ter indústrias cujo “desenvolvimento destrói uma geração” (a tese baseia-se nas declarações de Lin Wei, director do Centro de Investigação para as Leis da Internet, na China). Para corroborar a ideia, o texto inclui testemunhos de jovens que não tomam o pequeno-almoço para poupar dinheiro para gastar em videojogos e têm maus resultados na escola à custa das horas que passam online.
O artigo motivou preocupações de que o mercado dos videojogos seja o próximo alvo do Partido Comunista Chinês. No último ano, o Governo de Xi Jinping tem aumentado a regulação de vários sectores, incluindo o dos videojogos, explicações privadas e das ferramentas biométricas, para controlar as empresas mais influentes do sector privado chinês, como é o caso da Tencent. Desde Julho, por exemplo, que todas as empresas de explicações em disciplinas curriculares — que se tinham transformado num enorme negócio privado na China — têm de se registar como organizações sem fins lucrativos.
Algumas medidas parecem contraditórias. Apesar de o Governo encorajar a criação de sistemas de reconhecimento facial para impedir os jovens de aceder, ilegalmente, às plataformas de videojogos, Pequim também quer limitar o uso de alguns sistemas de reconhecimento facial. Na passada quarta-feira, Yang Wanming, vice-presidente do Supremo Tribunal Popular da China, realçou que há preocupações com “o abuso da tecnologia de reconhecimento facial” e que os pedidos de regulação estão a aumentar. Um dos receios é que informação pessoal de oficiais de topo da China possa ser alvo de ciberataque.
Em declarações ao jornal norte-americano The Washington Post, Marshall Meyer, um professor na Universidade de Pensilvânia, EUA, especializado em política chinesa, faz notar que as novas preocupações de Pequim não sinalizam o fim do uso massificado de reconhecimento facial na China — apenas garantem que a tecnologia está centralizada no Governo, que decide onde e como pode ser usada. “É o Governo, e só o Governo, que tem o direito de recolher e combinar dados ilimitados de reconhecimento facial”, explica Meyer àquele jornal.
Tencent pondera barrar videojogos a menores de 12 anos
Apesar do artigo da Xinhua sobre videojogos, que dá a entender que os jovens na China deixam de comer para comprar conteúdo premium online, dados da Tencent, referentes ao quarto semestre de 2020, mostram que os utilizadores com menos de 18 anos apenas representavam 6% do total da receita de videojogos na China. Já os menores de 16 representavam 3,2%.
Desde 2019 que a gigante chinesa impõe vários limites aos utilizadores mais novos na China devido a orientações do Partido Comunista Chinês que ditam que os jogadores com menos de 18 anos só devem aceder a plataformas de videojogos entre as 8h e as 22h, e só podem jogar hora e meia por dia.
Com as novas regras, anunciadas pela Tencent nas redes sociais, os utilizadores mais novos perdem mais meia hora de jogo. Menores de 12 anos deixam de poder comprar qualquer tipo de conteúdo premium (até então, tinham um limite de 400 yuan — cerca de 52 euros — por mês). A tecnológica levanta ainda a possibilidade de barrar, por completo, utilizadores com menos de 12 anos dos seus serviços, se o Governo o exigir.
O maior sucesso da Tencent é o WeChat, a aplicação chinesa que funciona como uma rede social, sistema de pagamento e serviço de mensagens (no fundo uma mistura do Facebook, Messenger, WhatsApp e Paypal).