Telemóvel de ministro francês mostra rasto de programa de espionagem

François de Rugy era ministro do Ambiente na altura da actividade registada no seu telefone. Um dos telefones de Emmanuel Macron aparecia numa lista para ser vigiado, assim como os de três primeiros-ministros e mais dois Presidentes.

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François de Rugy IAN LANGSDON/EPA

O telemóvel de um ministro francês mostrou vestígios de actividade ligada ao programa de espionagem do grupo NSO, noticiou o diário britânico The Guardian com base numa análise forense do telefone. A notícia de provas de actividade do programa no telefone de um governante, o então ministro do Ambiente, François de Rugy, surge no dia seguinte à abertura, pela procuradoria de Paris, de uma investigação sobre uma potencial vigilância de jornalistas franceses através do programa Pegasus da empresa israelita NSO.

O programa é também o que dá nome ao projecto de investigação Pegasus que junta mais de 80 jornalistas em dez países, incluindo o francês Le Monde, o britânico The Guardian e o americano The Washington Post. É coordenado pela Forbidden Stories, um órgão de comunicação sem fins lucrativos com sede em Paris, e tem apoio técnico da Amnistia Internacional, que fez testes forenses para identificar o rasto de actividade do spyware nos telemóveis. Segundo a investigação, foram seleccionados para ser vigiados mais de 180 jornalistas por todo o mundo, em países como a Hungria ou França. Além disso, foram identificados números de 600 políticos, 85 activistas e direitos humanos, e 65 empresários.

Na véspera, a investigação divulgou que pelo menos um telemóvel do Presidente, Emmanuel Macron, estava numa lista de pedidos de autoridades marroquinas para ser espiado – assim como de vários ministros franceses (Marrocos nega, assim como a NSO). Esta quarta-feira, a Amnistia Internacional acrescentou os nomes dos primeiros-ministros do Paquistão, Imran Khan, do Egipto, Mostafa Madbouly, ​e de Marrocos, Saad-Eddine El Othmani. Também constavam na lista de telefones identificados como potenciais alvos os Presidentes da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e do Iraque, Barham Salih. 

Ainda, sete antigos primeiros-ministros foram seleccionados antes de assumirem funções: o antigo primeiro-ministro do Iémen, Ahmed Obeid bin Daghr, do Líbano, Saad Hariri, do Uganda (Ruhakana Rugunda), da França (Édouard Philippe), do Cazaquistão, Bakitzhan Sagintayeve, e os antigos líderes dos Governos da Argélia e da Bélgica, Noureddine Bedoui e Charles Michel, respectivamente. Mais: também fora identificado para potencial vigilância um monarca, o rei marroquino Mohammed VI.

O facto de estar numa lista não significa que tenha havido tentativa de infiltrar os aparelhos com o programa de espionagem, nota o Guardian. Mas no caso de François de Rugy, a análise mostra que houve actividade com o programa, embora não se tenha conseguido provas de uma infiltração bem-sucedida.

De Rugy disse que encaminhou a informação ao procurador. “A investigação mediática atribui um papel aos serviços de espionagem de Marrocos nesta operação. Esta informação surpreende-me. Pedi uma audiência com o embaixador marroquino em França”, declarou.

“Se isto for provado, é claramente muito grave. Estas revelações dos media vão ser todas esclarecidas”, disse um responsável do Eliseu na véspera.

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