A porta do carro bate com meiguice e Dinis Cortes pega no caderno de argolas que o ampara desde manhã. Tordo, águia-calçada, pisco-de-peito-ruivo, chapim-azul – nele anotou todas as 30 espécies que observou num par de horas na praia fluvial de Frechas, em Mirandela, onde o Tua abraça as ruínas de uma azenha e magnetiza os pássaros que tanto gostam da cascalheira a descoberto. Agora, já em Vila Flor, junto à barragem do Peneireiro, continuamos a tentar dar nome ao que vemos, mas sobretudo ao que escutamos. Começa numa nova lição: “observação auditiva”, chama-lhe o guia, birdwatcher desde sempre, de ouvido escancarado para o céu. Muitos pios, imensos chilreares, todos diferentes, todos iguais. “Ouvem este? Parece o som de vidros a partirem-se.” É verdade. Saca do caderno, pega na caneta num desfecho quase solene. “Milheirinho.” Mais um para a lista.
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