Wout van Aert pode. Resta saber se quer
Até ao final do Tour, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre a corrida e os ciclistas em prova.
Wout van Aert tem tido duelos tremendos com Mathieu van der Poel e Julian Alaphilippe. São os três “monstros” do ciclismo actual, que todos querem ver nas corridas clássicas e nas etapas de média montanha.
São três atletas com características, virtudes, defeitos e fisionomia diferentes, mas com algo em comum: são tão bons que conseguem destacar-se em “pelouros” que, em tese, não são os seus – até em oposição a “classicómanos” famosos como Fabian Cancellara, Peter Sagan, Tom Boonen ou o próprio Philippe Gilbert, todos tremendos, mas não tão versáteis.
Mathieu van der Poel, versado em sprints e clássicas, quer ser medalhado olímpico em cross country. Alaphilippe, puncheur de subidas curtas e “artista” em clássicas, já se aventurou na montanha do Tour – andou de amarelo em 2019 e fez top 5. Wout van Aert é, tal como van der Poel, um “filho do ciclocrosse”, mas parece estar um degrau acima dos rivais na arte da versatilidade.
É capaz de sprintar com os melhores, roda a grande nível no contra-relógio e já provou na Volta a França que tem predicados na montanha: primeiro a “rebocar” um pelotão inteiro para Primoz Roglic, em 2020, e nesta terça-feira a vencer uma etapa com não uma, mas duas subidas ao mítico Mont Ventoux. Após a etapa, o ciclista belga assumiu que já tinha esta etapa “debaixo de olho” há algum tempo, o que indicia um real interesse em destacar-se nas montanhas.
Está, portanto, aberta a discussão: pode Wout van Aert tornar-se um “voltista”? Em tese, pode. Há muito que as montanhas deixaram de ser o palco dos ciclistas leves e baixos, pelo que, com a preparação adequada, o belga pode perfeitamente rodar entre os melhores trepadores.
A questão passa pelo foco dessa preparação. É pouco crível que fazer toda a temporada das clássicas da Primavera se coadune com um desempenho de topo na montanha do Tour ou em qualquer outra Grande Volta.
A sabedoria popular diz que há objectivos que não são para quem quer, mas para quem pode. No caso de Wout van Aert parece ser outra a questão: ele pode, mas resta saber se quer.