Angela Gulbenkian declarou-se culpada de furto e aguarda sentença em Londres
A coleccionadora de arte alemã, casada com um descendente de Calouste Gulbenkian, vai responder pela apropriação de mais de um milhão de euros, no âmbito da compra de uma escultura da artista japonesa Yayoi Kusama.
A coleccionadora de arte Angela Gulbenkian, que foi extraditada de Portugal para o Reino Unido em Dezembro passado, declarou-se culpada de duas acusações de furto num tribunal em Londres, devendo a sentença ser conhecida no final do mês. Fonte do tribunal criminal de Southwark, no sul da capital britânica, disse esta terça-feira à agência Lusa que a declaração de culpa foi feita numa audição na sexta-feira passada, tendo a sentença sido agendada para 28 de Julho.
De nacionalidade alemã, Angela Gulbenkian, de 38 anos, responde pelo furto de 1.061.484 libras (cerca de 1,24 milhões de euros ao câmbio actual) à empresa Art Incorporated Limited, do consultor Mathieu Ticolat, e 50.000 libras (58 mil euros) à cliente Jacqui Ball. Ambos terão pago a Angela Gulbenkian, que é casada com Duarte Gulbenkian, sobrinho-bisneto do empresário arménio Calouste Gulbenkian, para mediar a compra de uma escultura da artista japonesa Yayoi Kusama, intitulada Yellow Pumpkin.
Em Dezembro, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) de Portugal reconheceu que Angela Gulbenkian devia ter sido libertada em Novembro, antes de a Interpol a ter ido buscar à prisão para a extraditar para o Reino Unido. Na altura, o advogado de Angela Gulbenkian disse à Lusa ter recebido a decisão do Supremo sobre o pedido de habeas corpus (pedido de libertação imediata) em que aquela instância superior reconhece que a manutenção da prisão da coleccionadora era ilegal desde 24 de Novembro, altura em que devia ter sido libertada, apesar de contra ela existir um mandado de detenção europeu (MDE), que expirou naquela data.
Em 17 de Junho do ano passado, a Lusa noticiou que a corretora e coleccionadora de arte Angela Gulbenkian tinha sido detida pela Polícia Judiciária (PJ) no cumprimento de um MDE emitido pelo Reino Unido, tendo a visada ficado em prisão preventiva até o processo de extradição ser decidido pelo Tribunal da Relação de Lisboa (TRL). Na altura, a PJ mencionou que se tratava de uma mulher de 38 anos, “negociante em obras de arte, suspeita da prática do crime de burla no valor de milhares de euros”, residente na região de Lisboa.
Em Fevereiro de 2020, um tribunal britânico tinha emitido um mandado de detenção contra a corretora e coleccionadora de arte, acusada de burla e de usar indevidamente o nome da Fundação Calouste Gulbenkian. O mandado foi emitido pelo Tribunal da Coroa de Southwark para Angela Gulbenkian, por esta ter faltado a uma audiência judicial.
A 26 de Junho de 2019, já tinha sido emitido pelo Tribunal de Magistrados de Westminster um outro MDE contra Angela Gulbenkian, por alegadamente ter desviado o dinheiro que se destinava à compra de uma escultura de Yayoi Kusama.
O mandado de detenção europeu é um procedimento judicial transfronteiriço simplificado de entrega, para efeitos da instauração de uma acção penal ou da execução de uma pena, ou de uma medida de segurança privativa da liberdade. Os mandados emitidos pelas autoridades judiciais dos países da UE são válidos em todo o território da União e vigoram desde 1 e Janeiro de 2004, visando substituir os morosos procedimentos de extradição existentes entre os países da UE.