Avignon rendeu-se ao criador, mas (ainda) não à criação
Com o palco roubado pela nomeação à direcção do festival, a estreia da nova peça de Tiago Rodrigues — O Cerejal de Tchékhov, que montou instigado por Isabelle Huppert — arrebatou o público em vários momentos, mas não do princípio ao fim.
No final de “um dia que pareceu um mês”, sobressaltado pelo tsunami de uma nomeação que o obrigou a empilhar uma maratona de cumprimentos e entrevistas em cima das últimas afinações antes da estreia de O Cerejal, Tiago Rodrigues pôde finalmente festejar a chegada do seu novo espectáculo (para muitos espectadores, “o espectáculo da Isabelle Huppert”) à monumental Cour d’Honneur do Palácio dos Papas. Por duas horas e meia, e ainda que a magnética composição da híper-icónica actriz francesa lhe tenha roubado um pouco o palco (aliás já suficientemente incendiado pelo prodigioso Lopakhine de Adama Diop, incandescente na sua vontade de futuro e no seu desejo de reparação do passado, e pelos adoráveis fogos-de-artifício musicais de Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves), o foco transferiu-se da sua nova condição de próximo director de Festival de Avignon para o seu trabalho como artista capaz de escavar na tradição teatral para dela extrair novas metáforas e novos enunciados.
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