Primeiro avião de ajuda humanitária já chegou a Cabo Delgado. Lisboa quer envolvimento de outros membros da UE

À chegada do primeiro de três aviões que vão garantir a ponte aérea da UE para apoiar as populações afectadas pelo conflito, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português, Francisco André, pediu o envolvimento de outros Estados-membros. Segundo voo humanitário está agendado para este domingo.

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Paulo Pimenta

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português, Francisco André, pediu este sábado, em Cabo Delgado, o envolvimento de outros países da União Europeia (UE) no apoio a Moçambique face à violência armada no Norte do país africano.

“Moçambique e esta região em concreto estão neste momento a precisar de ajuda. São centenas de milhares de deslocados, em tempo de pandemia, e isso só se resolve com a actuação de todos. Portanto, era muito importante que outros estados europeus e fora da Europa se juntassem a nós neste esforço para ajudar as populações do país”, declarou Francisco André.

O responsável falava à comunicação social no Aeroporto Internacional de Pemba, no âmbito da chegada do primeiro avião de três que vão garantir a ponte aérea humanitária da UE para apoiar as populações afectadas pela violência armada em Cabo Delgado.

Para Francisco André, a chegada do primeiro voo humanitário, organizado por Portugal e Itália, reflecte a solidariedade dos povos daqueles países europeus para com a situação das populações afectadas pela violência em Cabo Delgado.

“É muito importante para o Governo português estar aqui a assinalar a chegada deste voo, sobretudo no final de um trimestre em que Portugal esteve em frente dos destinos da presidência do Conselho da União Europeia e que trabalhou bastante para colocar Moçambique como uma prioridade para política externa”, declarou Francisco André.

Segundo o governante português, o apoio de Bruxelas a Moçambique pretende combinar várias vertentes, com destaque para a capacitação da juventude em Cabo Delgado e a formação militar de forças governamentais face às incursões de grupos rebeldes no norte daquela província.

“Isto mostra bem a mobilização que Portugal coloca para o apoio a Moçambique no plano europeu, além do apoio bilateral. Temos estado presentes desde a primeira hora e vamos continuar a reforçar o apoio”, frisou.

A ponte aérea humanitária da UE para Pemba, norte de Moçambique, transportará perto de 15 toneladas de “equipamento que salva-vidas” que visa “responder a necessidades humanitárias urgentes”.

Os bens e equipamentos provêm de contribuições específicas da Itália, de organizações como a Sant'Egídio, Oikos, Cuamm e, de Portugal, pela Unidade de Apoio Geral de Material do Exército, da Cruz Vermelha Portuguesa, Cáritas e Tese.

O segundo voo da ponte aérea é esperado este domingo em Pemba, enquanto o terceiro chega no dia 9.

O secretário de Estado da província de Cabo Delgado agradeceu pelo apoio da UE, pedindo também o envolvimento de outros países, tendo em conta que “há muitas necessidades” face ao aumento do número de deslocados.

“Nós temos várias necessidades, sobretudo nas populações deslocadas. Elas estão a sair das suas terras de origem, não têm condições básicas de sobrevivência, alimentação nem abrigo”, declarou António Supeia.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo rebelde Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2800 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e 732 mil deslocados, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

O estabelecimento de pontes aéreas humanitárias pela União Europeia foi uma prática utilizada recorrentemente pelo bloco durante a pandemia: segundo estatísticas da Comissão, em 2020 foram operados 67 voos para 20 países através deste mecanismo, o que permitiu fornecer “mais de 1150 toneladas de equipamento humanitário e médico vital”.

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português vai trabalhar em Moçambique até o dia 7 e, além de visitar Cabo Delgado, tem previstos encontros com membros do Governo na capital moçambicana, reuniões que vão preparar a próxima cimeira bilateral, bem como a negociação do próximo Programa Estratégico de Cooperação 2022-2026.

Durante a visita, será também “assinalada a chegada do primeiro lote de vacinas contra a covid-19” doadas por Portugal a Moçambique, segundo uma nota divulgada pelo gabinete secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação português.