Dez lições da crise pandémica
A pandemia tornou-se um espelho das nossas vulnerabilidades e dos nossos pontos de resiliência. E deixou-nos estas dez lições que precisamos aprender para enfrentarmos esta e outras crises.
A Europa e o mundo continuam a enfrentar uma crise de saúde pública sem precedentes, com profundos impactos na vida das pessoas, na sociedade e na economia.
A pandemia tornou-se um espelho das nossas vulnerabilidades e dos nossos pontos de resiliência. Obrigou-nos a uma reflexão rápida sobre as medidas a tomar e lições que precisamos aprender para enfrentarmos esta e outras crises.
A primeira dessas lições é a do indubitável valor acrescentado europeu. Juntos somos mais fortes, mais capazes, mais eficientes. Esta foi uma lição aprendida com rapidez e a resposta da UE à pandemia incluiu iniciativas sem precedentes, concebidas e implementadas em tempo recorde. Assim se salvaram vidas e meios de subsistência e se deu resposta à emergência sanitária, à vacinação, à produção de bens essenciais, à preservação do emprego, às medidas necessárias para conter o risco de uma recessão económica avassaladora e permitir uma recuperação justa, sustentável e inovadora. Necessitamos de construir mecanismos de solidariedade quer ao nível da ação no terreno, quer ao nível dos instrumentos financeiros que a sustentem.
E esta é a segunda lição – a necessidade de melhorar os nossos mecanismos de gestão de crises tornando-os mais eficientes e adaptáveis. É fundamental que os instrumentos de emergência estejam prontos mais rapidamente e sejam facilmente ativados em função das circunstâncias e do nível de ameaça pandémica, climática, de segurança ou cibernética. As ações de emergência devem ter cadeias de decisão, comando e monitorização bem definidas.
A terceira lição aponta para a importância de dispormos de uma verdadeira abordagem pan-europeia de investigação científica e de análise rápida, ampla e eficaz que permita aos decisores políticos dispor de um quadro científico que sustente as suas decisões.
A quarta lição é a importância de valorizar os estudos prospetivos que nos permitam perceber quais são as grandes tendências de longo prazo e as tipologias de crise que podemos enfrentar – pandemias, fenómenos climáticos extremos, migrações, violência, terrorismo ou ameaças híbridas.
Em quinto lugar, contrariamente ao que nos foi dito durante a crise financeira de 2008, é fulcral reforçar os serviços da administração pública. A pandemia veio mostrar o papel vital dos serviços públicos a nível local, regional e nacional na área da saúde, da educação, dos transportes públicos ou das redes de comunicação. Uma administração pública sólida, moderna, capaz de operar digitalmente constitui uma base imprescindível para enfrentar futuras crises.
A sexta lição é que as crises afetam de forma mais imediata e com maior impacto os grupos sociais mais vulneráveis – crianças, idosos, trabalhadores precários, minorias, migrantes ou sem-abrigo. É central assegurar uma rede social pública e privada que responda de imediato a estas situações, impedindo que o fosso já existente se agrave em situações de emergência. A nível europeu é preciso dar corpo ao Plano de Ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais.
Quando, em Março de 2020, nos demos conta de que não se produziam praticamente máscaras de proteção ou ventiladores na União Europeia, aprendemos a nossa sétima lição – a importância de assegurarmos uma maior autonomia estratégica na produção de bens e serviços considerados essenciais. Temos de reverter longas cadeias de produção tornando-as mais próximas ou mais controláveis nos setores farmacêutico, alimentar ou em indústrias e serviços considerados estratégicos, sem que se ponha em causa a necessária abertura ao mundo ou se promovam interesses protecionistas.
A oitava lição é a necessidade de consolidar a resiliência dos nossos valores fundamentais, do Estado de Direito e da proteção dos Direitos Humanos para assegurar que quaisquer medidas de emergência que tenham de ser tomadas, limitativas dos direitos dos cidadãos, sejam feitas no total respeito pelas estruturas legais existentes.
A nona lição é termos redes de informação eficazes de combate à desinformação e meios de comunicação plurais e livres que gozem de credibilidade junto da população e veiculem informação verificada e factual.
A décima lição aprendemo-la todos os dias – a dimensão da crise que vivemos, e das que teremos seguramente de enfrentar no futuro, é global. É preciso garantir que estabelecemos mecanismos de emergência coletivos multilaterais eficazes e instrumentos de cooperação que não deixem ninguém para trás. Só estaremos seguros quando todos estiverem seguros.
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico