Jadon Sancho, um talento de rua que avança a toda a velocidade

Extremo inglês precisou de se mudar para a Bundesliga para encontrar o seu espaço. Agora, volta a casa com um novo estatuto.

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LUSA/NEIL HALL

Uma proposta de 30 mil libras por semana, com o carimbo do Manchester City, nas mãos de um jovem de 17 anos é uma oferta irrecusável para a esmagadora maioria dos futebolistas. Mas Jadon Sancho não é como a maioria. Ainda adolescente, decidiu que, mais do que uma conta bancária recheada, precisava de confiança, de mostrar o talento, de jogar. Pep Guardiola tinha-lhe reservado uma chegada a conta-gotas à equipa principal e essa perspectiva não o satisfazia. Por isso, quando surgiu uma proposta da Alemanha, agarrou-a. E fê-lo de tal forma que, quatro épocas depois, vai regressar a casa pela maior das portas, a troco de 85 milhões de euros.

A ligação de Sancho com uma bola de futebol começou em Kennington, no sul de Londres. No bairro onde morava, com sete anos, tinha por hábito frequentar alguns torneios jovens na esperança de que um jogador faltasse e ele pudesse actuar como substituto de última hora. Filho de um casal que deixou Trindade e Tobago para trabalhar em Inglaterra, o pequeno Jadon cedo começou a desenvolver aptidões: o controlo da bola, a técnica de passe e remate, o drible, a velocidade. Tudo aquilo que vai acontecendo espontaneamente a quem tem talento e cresce na rua.

Rapidamente ingressaria nos escalões de formação do Watford, onde não tardou a impressionar o corpo técnico. “O Jason aprendeu muito na rua, de modo informal. As pessoas pensam que as academias produzem estes jogadores, mas não. Fazem muitas coisas, apoiam, alimentam, projectam, mas herdam 90 ou 95% do jogador, mesmo quando chegam com nove anos”, revelou ao jornal britânico The Guardian Dan Micciche, treinador dos sub16 das selecções de Inglaterra.

Sancho representou o Watford entre 2007 e 2015, até despertar a atenção e o interesse do Manchester City. Foi nessa altura também que chegou às selecções jovens, numa trajectória ascendente feita ao ritmo do seu próprio potencial. “O que aprendi com o futebol de rua é o que tenho vindo a fazer desde então. É muito diferente. O futebol é essencialmente sobre diversão”, descreveu Jadon Sancho, numa entrevista ao site do Borussia Dortmund, em 2017.

Muitos consideraram precipitada a decisão de abandonar Inglaterra e rumar à Alemanha, a um campeonato diferente (com um futebol mais de transições), com uma cultura distinta e um idioma difícil de aprender. Mas Jadon estava determinado a conquistar minutos de utilização tão depressa quanto possível e via no Borussia Dortmund um exemplo de aposta contínua no talento jovem. “Se levamos o futebol a sério, temos de fazer sacrifícios. Não podemos ter medo. Se não corrermos riscos, não podemos ser melhores”.

Foi essa mesma mentalidade que lhe permitiu brilhar bem alto durante o Campeonato da Europa de sub17, em 2017, tendo conquistado o troféu com Inglaterra e sido eleito o melhor jogador do torneio. Os holofotes passaram a incidir mais na sua direcção e o interesse do Borussia acabou por ser uma rampa de lançamento. “Eles apostam muito nos jovens, têm confiança neles. É um grande clube, porque não?”.

A aposta deu frutos. Fez 12 jogos pela equipa principal na primeira época (e um golo), na segunda 43 (13 golos e 14 assistências), na terceira 44 (20) e na última 38 (16). Pelo caminho, tornou-se no primeiro jogador inglês a alinhar pelo Dortmund, no primeiro adolescente a chegar aos 25 golos na Bundesliga e ainda apontou os primeiros golos pela selecção A, em Setembro de 2019, num triunfo sobre o Kosovo (5-3).

Aos 21 anos, a carreira de Jadon Sancho avança a toda a velocidade, ao mesmo ritmo que o seu passe tem sido valorizado: há quatro épocas, foi comprado pelo Dortmund por 7,8 milhões de euros e vai agora regressar a Manchester, desta feita para vestir a camisola do vizinho United, a troco de 85 milhões de euros. O acordo entre os clubes foi anunciado nesta quinta-feira e o contrato que aguarda o extremo é de cinco temporadas.

Neste Euro 2020, Sancho ainda não encontrou o espaço que procura — tem apenas seis minutos de utilização em quatro jogos. Mas a personalidade do jogador (e a sua qualidade) fazem crer que a afirmação plena surgirá de acordo com os termos que há muito definiu. Ou, como ilustrou Dan Micciche: “A analogia que uso são os tijolos de uma parede, sendo que a parede é o jogador. Com o Jadon, se um dos tijolos for a criatividade e lhe dissermos que só pode jogar a um/dois toques, estamos a eliminar esse tijolo”.

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