Um “Big Brother para os políticos” para pensar o futuro da democracia

Como Perder um País, peça da jovem companhia de teatro Momento - Artistas Independentes, é a segunda do ciclo Democracia e os filhos dos anos 1990 e estreia-se esta quinta-feira na Casa das Artes de Famalicão.

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Como Perder um País tem texto de Filipe Gouveia e encenação de Diogo Freitas Nelson Garrido
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Nelson Garrido
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Concerto de rock
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O poder da manipulação, o papel da comunicação social, o perigo do populismo e o ruído das redes sociais. Estes são alguns dos temas que Diogo Freitas (encenador) e Filipe Gouveia (dramaturgo) atacam em Como Perder um País, peça de teatro que se estreia esta quinta-feira na Casa das Artes de Famalicão, e que corresponde à segunda parte do ciclo Democracia e os filhos dos anos 1990, que a jovem companhia famalicense Momento - Artistas Independentes criou para reflectir sobre a relação entre as novas tecnologias e a política.

O espectáculo surge um ano depois de Democracy Has Been Detected, em que um país é liderado por um sistema de inteligência artificial, e é descrito por Diogo Freitas como “uma espécie de Big Brother para os políticos”. Nicholas e Emília, dois governantes ideologicamente distintos de uma nação dividida por uma guerra civil, são involuntariamente “inseridos” numa simulação, na qual ascendem a chefes de Estado. A população, que consegue acompanhar as suas discussões e até mesmo espreitar a sua vida pessoal, “monitoriza” o seu desempenho, analisando à lupa as suas capacidades de liderança e a sua integridade para perceber quem tem o melhor perfil para o cargo.

É, de certa forma, a vingança do “povo”, que, diz Diogo Freitas, “está cansado de ouvir promessas de governantes e de ver que, quando chegam ao poder, ‘fazem todos o mesmo’” (“Claro que este ‘fazem todos o mesmo’ é o pensamento simplista/populista, não é necessariamente a minha opinião”, ressalva). Não que este modelo resulte, ou não fosse “completamente desumano”. “É obsceno espiarmos alguém desta forma”, sintetiza o encenador.

A Momento, jovem estrutura cujos membros nasceram todos na década de 1990, criou esta peça, bem como o ciclo que integra, para estudar os movimentos extremistas do nosso tempo, reflectir sobre o que a História pode ensinar e “falar com as pessoas sobre possibilidades futuras para a democracia”. “Nós não tivemos de lutar pela democracia, nascemos depois do 25 de Abril, depois da Guerra Fria, depois da queda do muro de Berlim. Não temos isso no nosso corpo”, começa por referir Diogo Freitas. “Nunca consegues perceber muito bem que estás a perder uma coisa que te foi dada de mão beijada. Só temos consciência de certas coisas quando as perdemos — só nos apercebemos do silêncio quando há ruído, por exemplo — e isso é muito perigoso.”

A peça explora a ideia da “estilização” dos debates televisivos, nos quais “a forma é mais importante do que o conteúdo”, e tem também em conta questões como a politização dos meios de comunicação e o “excesso de ruído” provocado pelas redes sociais. Como Perder um País recorre também ao universo da mitologia grega, recuperando a história da guerra de Tróia, “uma história sobre como o amor devastou uma cidade e derrubou uma muralha impenetrável”, para ver “como está a ser destruída a muralha da democracia, que também pensávamos ser inabalável”. “A gente sabe que a História é cíclica, mas, às vezes, parece que não dá para pôr um travão nessa roda que está a girar. Parece que cada geração comete sempre os mesmos erros”, comenta o encenador.

O espectáculo, que está em cena na Casa das Artes de Famalicão até sábado, chegará ao Porto, a Viana do Castelo e a Felgueiras em Novembro. A terceira e última peça do ciclo Democracia e os filhos dos anos 1990, Tratado: A Constituição Universal, estrear-se-á em Junho de 2022, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães.

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