Coreógrafo João Fiadeiro doa arquivo a Serralves
O contrato é assinado esta quarta-feira e prevê a doação à fundação portuense do Arquivo Atelier|RE.AL, com cerca de quatro mil peças.
RE.AL, um dos mais importantes arquivos de dança internacionais, vai ser doado à Fundação de Serralves pelo coreógrafo, performer e investigador João Fiadeiro. O contrato de doação deste acervo, que conta com mais de quatro mil peças, será assinado esta quarta-feira ao meio-dia, em Serralves.
Propriedade de João Fiadeiro, uma referência da dança portuguesa e europeia, o Arquivo Atelier
RE.AL reúne textos, vídeos, áudios, imagens, artefactos, entrevistas, artigos de jornal e críticas, num total de cerca de quatro mil itens, e permitirá ao Museu de Serralves, através do seu Serviço de Artes Performativas, ampliar as suas possibilidades de pesquisa, divulgação e apresentação no domínio da dança.
A Fundação de Serralves, “pioneira na transdisciplinaridade, no constante cruzamento entre as artes visuais e as artes performativas”, reafirma assim também “o seu papel enquanto plataforma central das artes performativas no contexto internacional”, diz o comunicado enviado à imprensa pela fundação portuense.
O Arquivo Atelier
RE.AL “será um importante pilar e fonte de conhecimento para a reconstituição de uma história das artes performativas, área a que a Fundação de Serralves está ligada desde a sua inauguração”, prossegue o documento. Através da organização de exposições temporárias e itinerantes, que Serralves se propõe “apresentar junto de teatros e centros coreográficos em Portugal e no estrangeiro”, este arquivo “de grande valor artístico e científico, representativo da memória colectiva de um país e da sua cultura performativa, irá adquirir uma nova vida, permitindo renovadas leituras dos seus documentos”, sublinha a fundação.
O acervo agora doado a Serralves “permite conhecer e investigar em profundidade um ciclo ininterrupto de actividade e programação de 29 anos, fundamental para a dança, em que se destacam documentos relativos às criações de João Fiadeiro (1990-2019), às criações dos artistas associados do Atelier
RE.AL – Cláudia Dias, Tiago Guedes e Gustavo Sumpta (2001-2009) – e à programação de projectos de cariz laboratorial e experimental desenvolvida pelo atelier ao longo dos últimos 30 anos, reforçando desta forma o acervo de arte contemporânea de Serralves”, diz ainda o comunicado.
Nova Dança Portuguesa
Fundada por João Fiadeiro em 1990, a companhia RE.AL manteve-se durante 30 anos em constante actividade, apresentando-se com regularidade um pouco por toda a Europa, nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e América do Sul, acompanhando e apresentando artistas emergentes, acolhendo residências de artistas e promovendo eventos transdisciplinar.
O seu fundador, João Fiadeiro, nascido em 1965, “pertence à geração de coreógrafos que emergiu no final da década de oitenta e que, na sequência do movimento pós-moderno americano e dos movimentos da Nouvelle Danse francesa e belga, deu origem à Nova Dança Portuguesa”, diz a informação biográfica enviada por Serralves. Grande parte da sua formação é feita entre Lisboa, Nova Iorque e Berlim, tendo depois sido bailarino na Companhia de Dança de Lisboa (86-88) e no Ballet Gulbenkian (89-90).
Em 1990 fundou a companhia RE.AL e colaborou, entre 1995 e 2003, com os Artistas Unidos na qualidade de responsável pelo “movimento dos actores”. De 2011 a 2014 co-dirigiu, com a antropóloga Fernanda Eugénio, o centro de investigação AND-Lab em Lisboa, “uma plataforma de formação e pesquisa na interface entre criatividade, sustentabilidade e quotidiano”, informa este resumo biográfico.
“Após uma pausa de seis anos em que se dedicou exclusivamente ao processamento e sistematização do método de Composição em Tempo Real, cruzando a sua investigação com áreas científicas como a neurociência ou as ciências dos sistemas complexos”, conclui o documento, “João Fiadeiro tem orientado com regularidade workshops em diversas escolas e universidades nacionais e internacionais”.