Um filho de peixe que não sabe nadar
Até ao final do Tour, o PÚBLICO traz histórias e curiosidades sobre a corrida e os ciclistas em prova.
Zabel é um apelido que não passa despercebido a quem seguiu ciclismo entre a década de 90 e o início do novo século. Durante cerca de 15 anos, Erik Zabel, alemão, foi um dos melhores sprinters do mundo. Só na Volta a França foram 12 etapas ganhas e seis conquistas consecutivas da camisola verde – apenas as sete de Peter Sagan, já neste século, retiraram o recorde a Zabel.
Hoje, o nome Zabel é outra coisa. Já não é Erik, mas Rick. Uma alteração muito suave na morfologia da palavra, mas substancial no talento. Rick é o filho de Erik e herdou o perfil de sprinter, mas só pela metade. Vai participar, em 2021, no seu quarto Tour. Vitórias? Zero. Top-10 em etapas? Zero. Camisolas verdes? Zero.
Erik era peixe, mas o filho, Rick, não sabe nadar. Pelo menos para ter os seus próprios palcos. Aos 27 anos, Rick Zabel é um sprinter que tem vivido a carreira a celebrar o sucesso alheio.
Percebendo que de pai para filho houve perda de talento, Rick tem feito carreira como lançador de alguns dos melhores sprinters do mundo – preparou terreno para Marcel Kittel, Aleksander Kristoff ou André Greipel.
Nos escalões jovens, Rick Zabel superava adversários como Dylan Groenwegen, Magnus Cort, Caleb Ewan ou Julian Alaphilippe. Como profissionais, todos têm valido bem mais do que Zabel.
Em 2016, isto era algo que Zabel queria mudar – “Quero dar um passo em frente e liderar uma equipa nos próximos anos. Quero ajudar os outros, mas sou ambicioso e o meu objectivo é mostrar que também consigo vencer corridas”, dizia.
Em 2019, o discurso já tinha mudado. “Cheguei ao ciclismo com as expectativas de ser filho do Erik Zabel. Quando vi que não iria ter o sucesso do meu pai, percebi que o importante é ser feliz e não me comparar mais com ele. Estou feliz por ser o Rick e deixarei o ciclismo com mais amigos do que ele. Ele era um vencedor e, para o seres, por vezes tens de ser um idiota no sentido egoísta do termo. Já eu sinto que tenho um equilíbrio entre ser um desportista e ser feliz. Estou orgulhoso de me ter tornado profissional e ser quem sou. O teu trabalho não define o que és”, escrevia num artigo no site De Velo.
Hoje, Rick já sabe que não será o que foi o pai. Neste Tour, terá duas tarefas: tentar levar André Greipel a festejar na meta e… ser feliz.