Farmácias poderiam ajudar a garantir vacinação “urgente do maior número de pessoas”, diz ex-presidente do Infarmed
Hélder Mota-Filipe diz que os farmacêuticos “devem fazer parte da solução”.
O ex-presidente do Infarmed Hélder Mota-Filipe considera que o mais importante para travar a pandemia é garantir a rápida vacinação do maior número de pessoas no menor espaço de tempo e que é preciso não descartar a capacidade das farmácias.
“É um aspecto importante. Não é de descartar, por princípio, e os farmacêuticos estarão com certeza preparados para entrar no processo”, diz à Lusa Hélder Mota-Filipe, sublinhando: “Os farmacêuticos não fazem questão de estar envolvidos só por estarem envolvidos e, portanto, devem ser parte da solução”.
Sobre o crescente número de infecções na região de Lisboa, o professor da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa afirma que, neste momento, se vive “uma situação ainda mal caracterizada”.
“O que é mais importante é garantir a vacinação rápida e urgente do maior número de pessoas e para garantir essa vacinação é preciso duas coisas: primeiro, as vacinas, o que parece neste momento já não ser um problema (…). Depois, usar toda a capacidade instalada no sentido de garantir o maior número de pessoas vacinadas no menor espaço de tempo”, defende.
Questionado sobre esta matéria, Hélder Mota-Filipe afirma: “Sinto que desde o princípio que há uma dificuldade, não digo de organização, mas de passar a mensagem sobre o que está a ser organizado e, portanto, é importante para a preparação das farmácias”.
“É preciso que os farmacêuticos saibam qual é o papel que lhes está destinado e quando e que isto não seja de um momento para o outro”, acrescenta.
Sobre o facto de a faixa etária dos novos casos e dos internados ser agora mais baixa e sobre a diferente pressão que isto faz no Serviço Nacional de Saúde, o especialista afirma: “A percentagem de doença grave é menor, mas, se nós aumentarmos o número da população infectada, o número de casos de doença grave vai aumentar na mesma”.
Apesar de este crescimento ser a um ritmo menor, Hélder Mota-Filipe sublinha a importância de proteger os doentes “não covid-19”, que já sofreram com a interrupção da actividade assistencial na altura mais crítica da pandemia.
“Nós temos de resolver o mais rapidamente possível a pandemia porque estamos a viver uma outra pandemia que não está a ser tão discutida como devia, que é a pandemia ‘não covid’, dos doentes que, por causa dos recursos estarem a ser desviados para a ‘covid’, não estão a ser tratados da forma mais adequada”, afirmou.
“Vamos ter a pandemia dos doentes ‘covid’ que ficam com sequelas e nós não sabemos ainda a gravidade das sequelas, nem durante quanto tempo, e todos os outros doentes que vão sofrer por não terem tido os cuidados que deviam por causa do desvio de recursos”, acrescenta.
Questionado sobre o estudo que a Ordem dos Farmacêuticos divulgou na quinta-feira que indica que estes profissionais devem ter mais intervenção clínica, o especialista sublinha a importância do farmacêutico no contexto da gestão global dos cuidados de saúde e a mais valia que representa a intervenção destes profissionais.
“Se pensarmos que dentro do global do orçamento do SNS quase 20% são medicamentos e se pensarmos que praticamente metade dos doentes não tomam os medicamentos da forma adequada e que os medicamentos que estão a chegar ao mercado são cada vez mais completos, mais exigentes do ponto de vista técnico e da sua segurança e mais caros, cria-se aqui um ambiente para a necessidade de uma maior intervenção do farmacêutico”, afirmou.
O ex-presidente do Infarmed considera ainda “fundamental” que os farmacêuticos possam intervir nas suas áreas de competência “no sentido de uma melhor utilização dos medicamentos de forma a garantir melhores resultados com maior custo/efectividade”.
“O papel dos farmacêuticos nos próximos anos vai ser crucial na melhoria dos cuidados de saúde, por um lado, e na contribuição para a sustentabilidade dos sistemas de saúde, por outro, porque há muitos milhões de euros do Orçamento do Estado envolvidos em medicamentos e a má utilização ou a não-maximização dos resultados dos medicamentos é uma má gestão de recursos”, acrescenta.