Toyota Mirai, o hidrogénio já não é uma miragem
É eléctrico, mas a energia provém do hidrogénio, o que significa que demora cinco minutos a abastecer o suficiente para percorrer 650 quilómetros. Sabe-se que a segunda geração chega este ano, mesmo que não haja data exacta de lançamento em Portugal. Mas a Toyota já avança com preços: desde 67.856€, com IVA.
O Toyota Mirai não é propriamente uma novidade: o primeiro automóvel a pilha de combustível do fabricante nipónico para uma vida comercial nasceu em 2014, depois de um historial com a tecnologia de vários anos (foi em 1992 que iniciou o desenvolvimento da tecnologia). Em Portugal, porém, onde não existe uma rede pública de abastecimento de hidrogénio, o carro só deverá chegar no final deste ano, numa altura em que já vai na sua segunda, e muito mais aprimorada, geração.
Mas o seu sucesso poderá ficar dependente daquela rede. E o assunto não parece estar fechado. Se, por um lado, a Estratégia Nacional para o Hidrogénio publicada em Diário da República, em Agosto do ano passado, previa 50 a 100 postos de abastecimento até 2030, com o investimento na produção de hidrogénio verde em Sines estimado em 1500 milhões de euros, por outro, ao fim de dez meses, o acordo entre a EDP, a Galp, a REN, a Martifer e a Vestas para avaliar a produção de hidrogénio verde em larga escala em Sines ainda não resultou na constituição de um consórcio entre as empresas — e parece pouco provável que isso possa acontecer.
No entanto, a aposta no hidrogénio é essencial para a Caetano Bus, empresa do Grupo Salvador Caetano, importador da Toyota. E, por isso, o Mirai pode ser o desbloqueador da engrenagem. Afinal, trata-se de um veículo premium que, para empresas, conseguirá apresentar-se por 55.168 euros, o valor sem IVA para a versão de entrada, muito bem apetrechada, e que beneficia ainda do facto de ser isento de Tributação Autónoma.
O Mirai de segunda geração deixa no passado um design que poderia parecer experimental para se apresentar com linhas elegantes, capazes de marcar uma (boa) impressão logo à primeira vista, sem que a marca tenha deixado de prestar atenção aos mais ínfimos detalhes de aerodinâmica (graças também a uma plataforma mais larga e mais baixa, de tracção traseira e o uso de pneus de maior diâmetro), que, em conjunto com uma significativa redução no tamanho e peso de todos os componentes principais, se reflecte na autonomia de cada abastecimento.
Por dentro, numa combinação de pele macia, materiais e texturas metalizadas, além de se percepcionar qualidade e boa construção, dá cartas a tecnologia. A zona do cockpit, por exemplo, é um espaço aberto, mas concentra a atenção com uma continuidade de design que unifica o ecrã multimédia de 12,3’’ com o painel de instrumentos digital. Ou seja, não será necessário ao condutor desviar o olhar da estrada para ter uma ideia de tudo o que se passa com o veículo — mais ainda nas versões equipadas com head-up display a cores.
Ecológico, mas emocional
Assente na plataforma modular GA-L e com uma reconfigurada motorização, o Mirai passou a incluir um terceiro depósito de hidrogénio, que permitiu o crescimento da autonomia de um só abastecimento em cerca de 30%, para 650 quilómetros.
Além disso, o facto de ter optado por montar o motor atrás permitiu arrumar os tanques e as baterias de forma diferente, o que lhe granjeou o quinto lugar (o Mirai de primeira geração era carro para quatro ocupantes). A alteração da configuração do sistema de propulsão permitiu ainda uma distribuição de peso equitativa entre a dianteira e a traseira.
Mas, talvez mais relevante, como explicou no início do ano passado o engenheiro-chefe do Mirai, Yoshikazu Tanaka, à Fugas, “um automóvel de tracção traseira é mais divertido de conduzir”. E a emoção está entre os trunfos que a Toyota pretende usar para chamar a atenção para um carro cuja potência total é de 182cv e que acelera de 0 a 100km/h em 9 segundos.
A marca assegura ainda que “a condução em auto-estrada e vias rápidas é tranquila e isenta de stress” e que, “em estradas sinuosas e menos congestionadas, o equilíbrio do novo Mirai é combinado com uma boa aceleração à saída das curvas”. Mas, apesar de termos tido a oportunidade de conduzir o automóvel, a curta duração do ensaio não permitiu pôr à prova mais do que o seu conforto e serenidade. A não ser que se accione o sistema de Controlo Activo do Som, que permite ter no habitáculo sonoridades diferentes consoante a utilização do pedal do acelerador.
Ainda assim, não se pense que foi tempo perdido. Enquanto nos deleitámos com o Mirai, este foi purificando o ar das zonas por onde passávamos. Confusos? É que, além de o automóvel ser isento de emissão de gases e partículas, passou nesta geração a integrar um filtro do tipo catalisador incorporado na entrada da admissão de ar. Ou seja, todo o ar que é puxado para dentro do veículo passa por este filtro que captura partículas microscópicas de poluentes, incluindo dióxido de enxofre (SO2), óxidos nitrosos (NOx) e PM2,5. Caso para dizer que não só não polui como ainda limpa.