Descemos à adega, uma loja em terra, fresquíssima e ornamentada com inúmeras garrafas cheias e vazias, mais umas poucas pipas e uns quantos vestígios, alguns etéreos, de incontáveis patuscadas celebradas ainda com o dono da casa vivo, um homem com passagem pelo seminário, oficiante da boa vida e viticultor com a modesta ambição de matar a sua sede e a dos amigos. O genro, único sobrevivente e herdeiro da casa, 72 anos mas com corpo e cabeça de eterno cinquentão, zelador da memória do sogro e vivendo nas coisas de comer e de beber à sua imagem e semelhança, condescende ao meu ougar e curiosidade por aquelas garrafas antigas. “Já devem estar todas estragadas. Abre as que quiseres.”
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.