Medo da compaixão ampliou o impacto nocivo da pandemia na saúde mental

Estudo sobre resiliência psicológica durante a pandemia envolveu uma amostra de 4057 homens e mulheres recrutados nos 21 países participantes. Foi publicado na revista científica Clinical Psychology and Psychotherapy.

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Daniel Rocha

O medo da compaixão ampliou o impacto prejudicial da covid-19 na saúde mental, aumentando os níveis de depressão, ansiedade e stress, revela um estudo internacional divulgado nesta segunda-feira pela Universidade de Coimbra (UC).

O trabalho, já publicado na revista científica Clinical Psychology and Psychotherapy, foi realizado no âmbito de um projecto internacional pioneiro sobre resiliência psicológica durante a pandemia, liderado por Marcela Matos, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Este consórcio, que “explora a compaixão, a conexão social e a resiliência ao trauma durante a pandemia de covid-19, ou seja, os factores que podem aumentar ou atenuar o risco de problemas de saúde mental neste contexto”, conta com a participação de cientistas de 21 países da Europa, Médio Oriente, Américas do Norte, América do Sul, Ásia e Oceânia.

Resistir a ter apoio

O universo da amostra incidiu sobre 4057 indivíduos de ambos os sexos da população geral, recrutados nos 21 países participantes.

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A investigadora Marcela Matos DR

De acordo com Marcela Matos, os resultados obtidos demonstram que “o medo da autocompaixão, medo da compaixão em relação aos outros e medo de receber compaixão dos outros estão associados a maiores níveis de depressão, ansiedade e stress, e menor sensação de segurança e ligação aos outros”.

Isto é, clarifica a coordenadora do estudo, citada pela UC, as “pessoas que têm mais medo e resistências em relação a serem sensíveis ao seu próprio sofrimento e ao dos outros, e que estão menos disponíveis para receber suporte e compaixão por parte de outras pessoas, tendem a apresentar mais sintomas depressivos, de ansiedade e de stress, e a sentir-se menos seguras e ligadas às outras pessoas”.

Face aos resultados obtidos, que são transversais aos 21 países que participaram no estudo, a investigadora defende que as autoridades de saúde pública “devem adoptar intervenções e comunicações focadas na promoção da compaixão e da ligação aos outros para reduzir os medos da compaixão e, assim, promover a resiliência e o bem-estar mental durante e após a pandemia covid-19”.

A investigadora recomenda ainda que “intervenções psicológicas de promoção e tratamento da saúde mental focadas na compaixão e baseadas em evidência empírica, em formato individual, grupal ou na comunidade, sejam usadas para reduzir o medo da compaixão e promover a motivação e as competências compassivas”.