O turismo faz-se de pessoas

As políticas públicas na área do turismo devem ter um olhar de género para responder à natureza do sector. As políticas a régua e esquadro não se aplicam a um sector que se pretende inteligente, digital, verde, responsável e social

O valor intrínseco do turismo advém das pessoas que nele trabalham. O motor desta indústria trabalha fruto do empenho, dedicação e trabalho das gentes que o compõem. Para executar políticas públicas que garantam dignidade aos profissionais deste sector é necessário particularizar os números, identificar quem são as pessoas por detrás de todo o ecossistema e criar condições justas e dignas de trabalho.

Quem são os profissionais do turismo?

Globalmente, as mulheres representam a maioria dos trabalhadores no sector do turismo, 54% valores pré-pandemia. Este facto não se reflete na folha salarial porque recebem menos 14,7 %. Nos cargos políticos de liderança representam 23% dos ministros responsáveis por esta pasta. Comparativamente, se olharmos para a inclusão das mulheres na economia como um todo, o sector do turismo parece integrar melhor. Ora vejamos, apenas 39% do mercado de trabalho é composto por mulheres, a diferença salarial é mais acentuada, situa-se nos 16,8% e apenas 20,7% dos ministros são mulheres.

Simultaneamente e olhando apenas para a Europa, 12% dos profissionais são jovens e 19% têm níveis educacionais baixos, o que leva as mulheres a permanecer em trabalhos menos qualificados. Olhemos para o segmento do alojamento: menos de 20% assumem posições de gestão e menos de 8% estão ao leme das empresas. Em Portugal este fosso, infelizmente, é ainda maior.

Desta descrição quantitativa aferimos que os efeitos económicos e sociais da pandemia de Covid-19 repercutiram-se em particular nas mulheres e no grupo etário dos mais jovens. Os planos a desenhar, as ações a executar têm de ser ágeis e de ter em conta esta realidade.

As políticas públicas nesta área devem ter um olhar de género para responder à natureza do sector. As políticas a régua e esquadro não se aplicam a um sector que se pretende inteligente, digital, verde, responsável e social. Esta premissa pode e deve ser transversal a toda a sociedade. Conhecer e identificar os profissionais para atuar de forma esclarecida e responder às suas necessidades primeiro, depois às do sector.

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