Covid-19. Governo promete “testagem maciça” para combater aumento de casos na região de Lisboa
Governo está a planear um regresso dos testes a um conjunto de “segmentos fundamentais” como o ensino, empresas e a função pública. Em entrevista ao Diário de Notícias, António Lacerda Sales diz que o aumento da transmissibilidade e da incidência “é um sinal de alerta”.
O Governo vai fazer uso das “armas que tem à mão” para combater o aumento de casos na região de Lisboa e Vale do Tejo nas últimas semanas, nomeadamente a “testagem maciça”, a vacinação, o rastreamento e um reforço de acções ao nível da saúde pública. A garantia foi deixada por António Lacerda Sales, secretário de Estado adjunto e da Saúde, em entrevista ao Diário de Notícias este domingo.
Entre outros temas relacionados com a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) à crise de saúde dos últimos meses, foi abordado o aumento do R(t) na região da capital, a única que tem um índice de transmissibilidade acima de um. Lacerda Sales avançou que, na sexta-feira, o Governo teve reuniões para planear um regresso dos testes a um conjunto de “segmentos fundamentais” como o ensino, empresas e a função pública.
“O aumento da transmissibilidade e da incidência, seja em que circunstâncias for, preocupa-nos, mas diria que é um sinal de alerta, não de alarme. É importante que isto fique bem definido. Mas obviamente que temos de fazer um reforço nas medidas e nas estruturas que nos permitam controlar a gestão de qualquer possibilidade de evolução da doença”, garantiu o secretário de Estado.
Na última actualização da Direcção-Geral da Saúde sobre a incidência em cada concelho, feita na sexta-feira, Lisboa aparece pouco abaixo do limite de 120 imposto pelo Governo: tem 118 casos por 100 mil habitantes a 14 dias, mais 37 do que o registo da passada sexta-feira. Caso fique acima do limite, Lisboa passa a integrar a lista de concelhos em alerta, ficando em risco de recuar nas etapas de desconfinamento caso a situação continue a agravar-se.
António Lacerda Sales apresentou, no entanto, dados diferentes, avançando que, na quinta-feira, a região tinha 110 casos por 100 mil habitantes. Ainda assim, garantiu que “a testagem na região e em algumas freguesias de Lisboa, com incidência maior”, vai ser reforçada para travar novas cadeias de transmissão.
“É para avançar o mais rápido possível, de acordo com as orientações da Direcção-Geral da Saúde e da task force para a realização de testes. O foco desta acção tem três parâmetros: o ser dirigida, programada e oportunística, no sentido de ser aleatória, e vai ser muito importante na continuidade da gestão da pandemia. Para já, este reforço está a ser pensado para a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), o que não quer dizer que não se venha a alargar a outras regiões e concelhos, mas o nosso foco está agora em LVT, porque também foi aqui que os valores subiram um pouco mais”, referiu ainda Lacerda Sales, acrescentando que, enquanto a pandemia durar ou enquanto for necessário tomar medidas para a controlar, estas task forces são “para continuar”.
Número de testes em queda
O matemático Carlos Antunes alertou, no sábado à noite, que Lisboa provavelmente “já está na linha vermelha”. Em declarações à SIC Notícias, explicou que o número de novos casos “está a crescer 3,4 por cento por dia” e que, fazendo as contas, “teremos 130 casos por cada 100 mil habitantes.”
O aumento da incidência da covid-19 e do índice de transmissibilidade, os dois indicadores que têm guiado o desconfinamento, não está a ser acompanhado pelo aumento do número de testes realizados. Tiago Correia, especialista em Saúde Internacional, diz ao PÚBLICO que a população ainda não está sensibilizada para o aumento destes indicadores, mas acredita que os comportamentos se adequarão à situação epidemiológica. Mas a diminuição do número de testes, por um lado, e o aumento da taxa de resultados positivos, por outro, “devem ser um sinal de alerta”, avisa.
O relatório conjunto da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Instituto Dr. Ricardo Jorge (INSA) sobre a monitorização dos limites da covid-19, divulgado na sexta-feira, reflecte isso mesmo: “Observa-se um decréscimo no número de testes realizados” na última semana analisada, entre 13 e 19 de Maio, frase que esteve presente nos últimos três relatórios.
Nos últimos sete dias, foram realizados cerca de 256 mil testes à covid-19, valor que tem vindo a descer desde o fim de Abril. Entre 21 e 27 de Abril, por exemplo, foram feitos mais de 450 mil testes, o valor mais alto desde que a DGS e o INSA começaram a divulgar estes relatórios de monitorização dos limites. Na semana seguinte, entre 28 de Abril e 4 de Maio, o número de testes semanais caiu para 322 mil, descendo ainda mais uma vez para 262 mil testes nos sete dias seguintes, entre 6 e 12 de Maio