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Critical Software quer formar e dar emprego em tecnologias de informação a pessoas com autismo

“Se as pessoas pensam todas da mesma maneira, não vai haver muita inovação”, acredita o co-fundador e director executivo da empresa. Por isso, a empresa quer apostar na neurodiversidade e contratar pessoas autistas. Candidaturas estão abertas até 9 de Julho.

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Mimi Thian/Unsplash

Um programa pioneiro em Portugal, desenvolvido pela Critical Software, quer formar e dar emprego em tecnologias de informação a pessoas com autismo ou síndrome de Asperger, disse à agência Lusa o director executivo da empresa sediada em Coimbra.

O programa de talentos Neurodiversidade aceita, até 9 de Julho, candidaturas de portugueses maiores de 18 anos com diagnóstico de autismo/Asperger e procura candidatos com motivação para a área das tecnologias de informação (TI) e conhecimentos de inglês de nível médio. “É um programa de empregabilidade, dirigido a pessoas que estão no espectro do autismo ou de Asperger. E a motivação é muito simples: a Critical é uma empresa de pessoas, dependemos muitíssimo do talento. Para nós, a criatividade, a inovação e construir conhecimento são a chave para o nosso sucesso e esta é uma oportunidade para ter pessoas com características especiais envolvidas nesse processo de criação de inovação”, afirmou João Carreira, co-fundador e director executivo (CEO) da Critical Software.

“Acredito que em todas as áreas, mas especialmente na nossa, em TI, a inovação, as ideias diferentes, vêm das zonas de fronteira, não vêm do mainstream [do convencional]. Se as pessoas pensam todas da mesma maneira, eventualmente não vai haver muita inovação. E, portanto, pessoas neurodiversas vão trazer essa riqueza para dentro de empresa”, acrescentou João Carreira.

O CEO da Critical insistiu que a “grande motivação” é levar talento à empresa de sistemas de informação e recusou que se trate de caridade para com as pessoas no espectro do autismo. “Não é uma caridade que estamos a fazer, não queremos este programa com essa mentalidade, mas sim para integrar as pessoas por aquilo que elas são. São pessoas com competências por vezes extraordinárias, que são incompreendidas e dificilmente aceites, e nós estamos a fazer este esforço para identificar e enquadrar essas pessoas”, argumentou João Carreira.

O programa da Critical Software é feito em parceria com a fundação dinamarquesa Specialisterne (que se traduz, em português, como “os especialistas"), uma entidade que está actualmente em 13 países e que tem como objectivo criar um milhão de empregos para pessoas com autismo. “Eles estão a fazer um trabalho muito interessante já há bastantes anos, também na área de TI. E, entretanto, também nos apercebemos que em Portugal há outros programas de empregabilidade para pessoas com autismo ou pessoas neurodiversas, mas este programa da Critical é o primeiro dirigido essencialmente a esta área específica”, explicou. “Neste domínio [das tecnologias de informação] não há [em Portugal] nenhum programa específico com este foco”, enfatizou João Carreira.

A selecção e avaliação dos candidatos ao programa Neurodiversidade vão ser realizadas com o apoio da Specialisterne. A formação decorrerá, depois, durante cinco semanas, em áreas “relevantes para a empresa”, como o teste e desenvolvimento de software, cibersegurança e consultoria operacional de tecnologia de informação.

Neste primeiro projecto, João Carreira revelou que serão seleccionadas nove pessoas, para serem integrados, após a formação e a partir de Outubro, na Critical Software em Lisboa, Porto e Coimbra: “É a primeira vez, estamos a ver como funciona, mas, claramente, é um programa que, correndo bem, é para continuar”, garantiu.

Em paralelo à formação dos candidatos ao programa, a Critical Software vai também formar alguns dos seus quadros, especialmente os gestores de projecto, para saberem como lidar com o autismo. “Vão saber como estar atentos a sinais de pessoas que são neurodiversas, como perceber a diferença e como tirar partido dessa diferença. Como perceber que essa diferença não é um problema, mas pode ser uma grande vantagem para os projectos em que eles estão envolvidos”, explicou João Carreira, definindo a formação dos colaboradores como “um efeito colateral muito interessante”.

“Os nossos gestores vão estar expostos a esta questão, que será uma nova realidade. Esta capacidade de olhar para o outro, olhar para a diferença, que num autista, muitas vezes, é muito evidente, pelas dificuldades que tem em termos interpessoais, ver para além disso e conseguir integrar as pessoas na equipa, é um desafio extraordinário, mas também enriquecedor e fonte de crescimento pessoal para as pessoas. E vai ajudá-las a tornarem-se melhores gestores e melhores líderes”, observou.