Perseguição aos uigures reduziu o número de nascimentos em Xinjiang

Taxa de natalidade caiu para quase metade desde que o Governo chinês intensificou as medidas restritivas contra a minoria muçulmana, conclui estudo. Pequim é acusado de esterilizações forçadas e detenção de mulheres.

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Autoridades chinesas são acusadas de reprimir minoria uigur em Xinjiang THOMAS PETER / Reuters

O número de nascimentos na província chinesa de Xinjiang caiu quase para metade entre 2017 e 2019, de acordo com um relatório divulgado esta quinta-feira, que relaciona a queda sem precedentes da natalidade nesta região com as políticas repressivas das autoridades chinesas contra a minoria muçulmana uigur.

Segundo os dados analisados pelo Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI, na sigla original), o número de nascimentos na província no extremo ocidental da China caiu 48,74% naqueles dois anos. As estatísticas não permitem perceber se esta queda se deu exclusivamente entre a população muçulmana, mas em distritos em que a percentagem de habitantes da etnia han (dominante na China, mas minoritária em Xinjiang) é inferior a 10% a queda é mais acentuada, em média de 56%.

Os autores do relatório concluem que a queda acentuada da natalidade é a maior em qualquer região do mundo nos últimos 71 anos, desde que a ONU reúne dados sobre a fertilidade, ultrapassando os casos de genocídios no Ruanda e no Camboja.

“Pesquisas anteriores realizadas tanto por especialistas chineses como por estrangeiros debruçaram-se sobre a ampliação das políticas de controlo de natalidade em Xinjiang e a uma queda correspondente do crescimento natural da população desde 2015, mas de forma ainda mais dramática a partir de 2017”, observam os autores, citados pelo Guardian.

O Governo chinês é acusado de aplicar medidas de controlo de natalidade muito restritas e violentas junto dos uigures e outras minorias muçulmanas em Xinjiang, incluindo esterilizações forçadas de mulheres e a sua detenção por violarem directrizes de planeamento familiar.

Estas medidas enquadram-se num conjunto mais vasto de políticas descritas por várias organizações como crimes contra a humanidade e uma possível tentativa de genocídio dos uigures. Milhares de pessoas foram detidas em campos de “reeducação”, onde são sujeitas a trabalhos forçados, e até a tortura, sem nunca lhes ser permitido o contacto com as suas famílias.

Pequim não nega a existência destas instalações, mas descreve-as como centros “vocacionais” para incluir a população muçulmana no mercado de trabalho. O regime nega veementemente as acusações de crimes e abusos contra os uigures e refere que todas as medidas extraordinárias adoptadas em Xinjiang se destinam a combater o terrorismo interno.

O estudo australiano é divulgado na mesma semana em que os dados dos censos populacionais foram divulgados pelo Governo chinês, mostrando o menor crescimento da população desde que há registos. Os dados oficiais confirmam uma queda acentuada da taxa de natalidade em Xinjiang a partir de 2017, passando de 15,88 nascimentos por mil habitantes para 8,14 dois anos depois.

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