Cabrita debaixo de fogo no Parlamento. Costa segura ministro
A situação do Novo Banco aqueceu o debate entre o líder do PSD e o primeiro-ministro.
Um dia depois das imagens dos festejos descontrolados do Sporting e da polémica em torno da gestão da situação de Odemira, os deputados do CDS, Chega e Iniciativa Liberal fizeram marcação cerrada a Eduardo Cabrita e obrigaram o primeiro-ministro a sair em defesa do seu ministro: “Tenho um excelente ministro e vivo muito bem com ele.” António Costa até adiantou que Eduardo Cabrita já questionou a PSP e pediu à Inspecção-geral da Administração Interna um inquérito sobre a actuação da polícia nos festejos do clube.
Foi André Ventura, do Chega, quem questionou directamente António Costa sobre se iria manter Eduardo Cabrita no Governo, mas foi o deputado da Iniciativa Liberal que enumerou, com detalhe, as polémicas à volta do ministro. “Quando o MAI comprou golas antifumo que eram inflamáveis, o ministro ficou. Quando demorou meses a assumir responsabilidades no caso Ihor Homenyuk, o ministro ficou. Quando o contrato SIRESP chegou ao fim sem renegociação, a culpa era da Altice, mas o ministro ficou. Com as filas intermináveis de voto antecipado às presidenciais, não só o ministro ficou como foi ‘a festa da democracia’. Para resolver a situação sanitária de Odemira de que já aqui falámos, o ministro fica. Ontem houve a festa do título do Sporting, não havia plano absolutamente nenhum, continua aqui o ministro”, apontou João Cotrim Figueiredo.
O deputado sugeriu que António Costa segura o ministro por terem sido colegas de escola e Telmo Correia, líder da bancada do CDS, fez um trocadilho com as polémicas em torno de Cabrita: “Já nada nos Odemira.”
Rui Rio focou a sua intervenção no Novo Banco mas na recta final não deixou de apontar baterias ao ministro: “O Governo está a perder o discernimento, o ministro da Administração Interna invade propriedade privada a meio da noite com forte dispositivo policial, o mesmo dispositivo policial que ontem, a propósito dos festejos, foi incapaz de fazer o que lhe competia fazer.”
Mas o duelo entre o líder do PSD e o primeiro-ministro aqueceu por causa do Novo Banco. Rui Rio defendeu que “mais valia” que a instituição tivesse ficado na posse do Estado - e assim “não se venderiam os activos ao desbarato -”, desafiando o primeiro-ministro a assumir que a venda do banco em 2017 foi um “completo desastre”. António Costa contrariou a tese – “evitou um desastre” - e reiterou que o “dinheiro que o Estado adiantou é o dinheiro que vai recuperar com juros para os contribuintes” até 2046. O empréstimo ao Fundo de Resolução “poderá ser pago, mas é quando as galinhas tiverem dentes”, contrapôs Rui Rio.
Como assinalou o próprio líder do PSD, a perspectiva dos sociais-democratas aproxima-se da visão do PCP. Jerónimo de Sousa já tinha qualificado como “desastrosa” a solução do Governo PS para o banco. "Perdões de dívida, imóveis vendidos a preço de saldo, financiamento de negócios e de aventuras privadas, prémios inaceitáveis a gestores - tudo pago pelo Orçamento do Estado. Quanto mais dinheiro vai ser necessário gastar para que o Estado chame a si o poder em relação ao Novo Banco”, questionou.
A coordenadora do BE, Catarina Martins, colocou a questão de outra maneira ao tentar comprometer o primeiro-ministro com a aprovação prévia no Parlamento de quaisquer futuras injecções de verbas na instituição, mas António Costa rejeitou, argumentando com a necessidade de cumprir os contratos estabelecidos.