Mapa do genoma de coronavírus dá pistas sobre mutações no SARS-CoV-2
Uma equipa do MIT determinou o conjunto de genes codificadores de proteínas do SARS-CoV-2 e analisou a probabilidade de novas mutações ajudarem este coronavírus a adaptar-se aos humanos.
Investigadores do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, elaboraram um mapa anotado do genoma do coronavírus SARS-CoV-2 que permite identificar mutações genéticas com potencialidade de tornar o vírus mais infeccioso.
O estudo, publicado agora na revista científica Nature Communications, foi desenvolvido a partir de técnicas computacionais, com as quais a equipa do MIT comparou o genoma do SARS-CoV-2, que causa a covid-19, com o genoma de outros coronavírus semelhantes, como o SARS-CoV (que causa a síndrome respiratória aguda grave).
Em termos latos, o genoma define-se por toda a informação genética dada por um conjunto de genes formados por sequências de moléculas de ADN ou ARN e que codificam determinadas proteínas.
Para este trabalho, os investigadores do MIT determinaram o conjunto de genes codificadores de proteínas do SARS-CoV-2 e analisaram a probabilidade de novas mutações (alterações no material genético) ajudarem este coronavírus a adaptar-se aos humanos e a tornar-se mais contagioso ou escapar ao sistema imunitário.
A equipa confirmou seis genes codificadores de proteínas no genoma do SARS-CoV-2, além dos cinco comuns para os coronavírus, mas descobriu que outros supostos genes, afinal, não codificam nenhuma proteína. O estudo analisou também mais de 1800 mutações genéticas que surgiram no SARS-CoV-2 desde que foi identificado pela primeira vez. Para cada gene, os cientistas compararam a rapidez com que evoluiu no passado e desde o início da pandemia da covid-19.
Descobriram, por exemplo, que uma região da proteína do nucleocapsídeo, que envolve e protege o material genético viral, no caso moléculas de ARN, tinha muito mais mutações do que era esperado para os seus padrões de evolução histórica. Esta região é considerada um alvo para os linfócitos B, células do sistema imunitário que produzem anticorpos (glicoproteínas que se ligam e neutralizam um antigénio como um vírus). De acordo com os autores do estudo, mutações nesta região podem ajudar o SARS-CoV-2 a escapar ao sistema imunitário humano (e consequentemente à eficácia de vacinas, que induzem a produção de anticorpos no organismo).
“A região mais acelerada em todo o genoma do SARS-CoV-2 fica bem no meio da proteína do nucleocapsídeo. Supomos que as variantes que não sofrem mutações naquela região são reconhecidas pelo sistema imunitário humano e eliminadas, enquanto as variantes que acumulam mutações aleatoriamente naquela região são, na verdade, mais capazes de escapar ao sistema imunitário humano e permanecer em circulação”, afirmou, citado em comunicado do MIT, um dos autores da investigação, Manolis Kellis, que trabalha no Laboratório de Ciência Computacional e Inteligência Artificial do instituto.
Segundo a equipa do MIT que elaborou o estudo, os dados recolhidos podem ajudar outros cientistas a centrarem a sua atenção nas mutações genéticas do coronavírus que parecem ter efeitos significativos na sua capacidade infecciosa.