A Porto Design Biennale quer pensar o presente a partir da realidade do outro
Entre 2 de Junho e 25 de Julho, Porto e Matosinhos recebem a segunda edição do evento, que este ano se centra nas Alter-realidades. França é o país convidado.
Desenhar o presente é o mote da segunda edição da Porto Design Biennale (PDB), a decorrer entre 2 de Junho e 25 de Julho. Durante 54 dias, Porto e Matosinhos vão receber 49 actividades, divididas por 24 espaços, pensadas por 9 curadores. Organizada pela esad–idea, o ramo de investigação da Escola Superior de Artes e Design, o evento conta com o apoio das duas autarquias vizinhas, para apresentar uma programação assente no tema Alter-realidades.
A faltar pouco mais de um mês para o arranque do maior evento dedicado ao design em Portugal — depois do fim da ExperimentaDesign, em 2017, após 18 anos de actividade —, o programa foi apresentado nesta terça-feira ao fim da manhã nos Paços do Concelho da cidade sede de distrito.
A conduzir a apresentação esteve o britânico Alastair Fuad-Luke, curador geral, para sublinhar a urgência de serem criadas soluções alternativas em tempos de pandemia. Para isso, considerou ser necessário criar uma consciência do outro (alter). Para desenhar esta edição, lançou o repto à sua equipa para elaborar uma lista de “alters” a serem explorados. De um índice de cinquenta sobraram quatro, que servem agora de guia para a PDB21: Alter-Paisagens, Alter-Cuidado, Alter-Produção e Alter-Vivências.
Considerando-se um “pluralista”, o britânico radicado no Porto define o design como um “processo facilitador e catalisador no dia-a-dia”. Por isso, defende que as soluções dos criadores sejam pensadas tendo como base a ideia do “agora”.
Esta edição tem como país convidado a França, por via da exposição e instalação Autre, com curadoria de Caroline Naphegyi e Sam Baron. O último, também presente na apresentação do programa, define o design como uma “linguagem” e uma “maneira de criar ligação com o outro”.
Ser humano e todos os outros seres vivos
As várias actividades programadas passarão por espaços como a Casa do Design ou o Museu da Quinta de Santiago, em Matosinhos, ou a Quinta do Bonjóia, o Palacete dos Viscondes de Balsemão, a Estação do Metro de 24 de Agosto, o Museu Nacional de Soares dos Reis ou a Associação Saber Compreender, no Porto.
O programa da PDB21 terá como um dos seus eixos principais a exposição Museu da Matéria Viva, onde se estabelecerá uma relação sustentável entre ser humano e todos os outros seres vivos. A par da vertente expositiva, o Museu da Matéria Viva convocará um ciclo de workshops desenvolvidos por Alexandra Fruhstorfer (Áustria) e Seçil Uğur Yavuz (Itália/Turquia); Julia Lohmann, Germany e Violaine Buet (França) e Alastair Fuad-Luke (Reino Unido) e Tiago Patatas (Portugal).
O Palacete Viscondes Balsemão e a Praça Carlos Alberto receberão Cuidado Radical: Arquitecturas de Amor e Reciprocidade, uma proposta orientada pela portuguesa Ana Jara e pelo espanhol Alberto Altes, tendo as questões ambientais como pano de fundo. Outra proposta do programa passa por Habitar 424, com curadoria do Fran Edgerley e Inês Marques e da El Warcha Portugal, que vai pôr em marcha um workshop desenvolvido por e para a comunidade sem-abrigo do Porto. Parte do programa será ainda composto por 11 workshops, por 20 conversas online e por um ciclo de actividades satélites seleccionadas a partir de open call lançado pelo evento.
Na sua intervenção, Luísa Salgueiro, presidente da câmara de Matosinhos e da PDB, enalteceu a capacidade de em ano de pandemia ser possível cumprir os planos para a realização da segunda edição do evento. Um dos motivos fundamentais para ter sido possível fazê-lo, assinala, prende-se com a boa relação entre as duas autarquias e os dois autarcas. Luísa Salgueiro sublinhou ser fundamental “deixar para trás as discórdias entre autarcas da região”, remetendo para o passado, garantindo que Porto e Matosinhos “estão unidos para impulsionar a região”.
Rui Moreira subscreveu as palavras da socialista, lembrando outras parcerias já existentes a nível cultural, como é o caso do Festival DDD e o FITEI. Já o mote da bienal considera-o mais um motivo para que se pense o futuro depois da pandemia: “Queremos mesmo voltar ao que era, provavelmente, uma anormalidade?” O presidente da câmara do Porto e vice-presidente da bienal pergunta e responde: “Como sou um optimista acredito que vamos criar uma nova e futura normalidade”. Servirá esta bienal, acredita, para pensar essa nova normalidade.