João Almeida preterido no Giro. Será segunda escolha?

Os próximos dias mostrarão se a equipa está a dar o dito por não dito – e se Remco Evenepoel está, afinal, a tentar vencer o Giro e não a trabalhar para João Almeida – ou se a opção foi apenas para colocar os dois ciclistas a par na classificação.

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Almeida em acção no Giro 2021 LUSA/LUCA ZENNARO

João Almeida era, antes da partida para a Volta a Itália, o líder da Deceuninck – a equipa e o próprio português garantiram-no.

Já com a prova na estrada, Patrick Lefevere, director-desportivo da formação belga, anunciou que Almeida não vai renovar pela equipa (criticando o empresário do ciclista), recuou na “promessa” e deixou no ar que a liderança da Deceuninck neste Giro seria discutida na estrada entre o português e o prodígio Remco Evenepoel – quem estivesse melhor seria o líder, estratégia diferente da alinhavada com Almeida.

Neste domingo, na etapa 2 do Giro, as pistas deixadas por Lefevere tiveram aplicação prática: parece mesmo ser Evenepoel o foco da Deceuninck, apesar de o belga não correr há nove meses – com a incógnita física que daí advém.

A cerca de 20 quilómetros do final da etapa, houve sprint intermédio com segundos de bonificação. Apesar de ter João Almeida em quarto lugar na classificação, dois segundos à frente de Evenepoel, a equipa belga optou por lançar este último para o sprint. Estão, agora, com o mesmo tempo na geral, mas com vantagem para o ciclista belga.

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Os próximos dias mostrarão se a equipa está a dar o dito por não dito – e se Evenepoel está, afinal, a tentar vencer o Giro e não a trabalhar para Almeida –, se a opção foi apenas a intenção de colocar os dois ciclistas a par na classificação ou se, num terceiro prisma, o corredor das Caldas terá passado à equipa a informação de que estava mal fisicamente (cenário improvável, pelo conforto mostrado durante a etapa).

Um detalhe muito debatido nas redes sociais sobre a opção de Almeida em não ficar na Deceuninck (e eventuais implicações na postura da equipa neste Giro) remete para a alegada influência nefasta de Jorge Mendes na gestão da carreira do português - um assunto que o PÚBLICO já pôde negar, com o verdadeiro empresário de Almeida, João Correia, a garantir que a Polaris, empresa de Mendes, apenas gere a vertente comercial da carreira do ciclista.

Merlier venceu

Fora da orgânica interna da Deceuninck, que muita tinta ainda fará correr, houve, claro, uma etapa para vencer. Tim Merlier (Alpecin) bateu ao sprint Giacomo Nizzolo (Qhubeka) e Elia Viviani (Cofidis), na chegada a Novara, conquistando a primeira etapa em linha deste Giro. Foi a primeira vitória do belga numa Grande Volta.

Na classificação geral não houve alterações significativas, com o italiano Filippo Ganna (INEOS) a manter-se de rosa.

A etapa deste domingo, a primeira tirada em linha deste Giro, depois do contra-relógio que abriu a corrida, foi tão monótona como se esperava que fosse. Era a primeira das seis etapas de perfil quase nulo em matéria de dificuldades (as outras são as tiradas 5, 7, 10, 13 e 18) e a profecia confirmou-se na estrada.

Um trio de ciclistas andou em fuga durante todo o dia e chegou a ter cerca de três minutos de vantagem para o pelotão, mas as equipas com sprinters nunca permitiram que a diferença crescesse.

Vincenzo Albanese (Kometa) foi o primeiro a ceder na frente, mas Umberto Marengo (Bardiani) e Filipo Tagliani (Androni), os que mais resistiram, foram escapados até 25 quilómetros da meta. Aí, começou a luta dos “comboios” que lançariam os velocistas, com o duelo final a sorrir a Merlier, num sprint que deixou Caleb Ewan, Peter Sagan e Fernando Gaviria (que quase caiu) fora da decisão.

Nesta segunda-feira, a etapa 3 promete ser mais traiçoeira e imprevisível. Algumas elevações na parte final do dia poderão permitir a alguns ciclistas ofensivos e explosivos “enganarem” os principais sprinters.

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