Torre de Controlo do Porto autorizou descolagem com viatura na pista. “Incidente grave” sob investigação

Um “equívoco” levou a que um avião da ASL Airlines Belgium descolasse quando uma viatura se encontrava na pista a fazer uma inspecção.

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Nelson Garrido

A Torre de Controlo do Aeroporto do Porto autorizou a descolagem de um avião quando na pista ainda se encontrava uma viatura a realizar uma inspecção, admitindo tratar-se de “um equívoco”, que vai ser investigado como um “incidente grave”.

Segundo uma nota informativa do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF) agora divulgada, às 20h35 de 27 de Abril deste ano, “um operador e respectiva viatura ‘follow-me’ solicitou autorização ao controlador [aéreo] de serviço [CTA] na torre do Aeroporto do Porto para entrar na pista, por forma a efectuar a inspecção nocturna prevista, a 4.ª inspecção do dia”, a qual teve início “após respectiva autorização por parte do CTA”.

Pelas 20h46 – 11 minutos depois – estando duas aeronaves em preparativos para descolagem, o CTA “deu autorização para que um Boeing 737-400 [FDX4959]” se dirigisse para a pista 35, refere o GPIAAF, acrescentando que, “cerca de um minuto depois”, a tripulação da aeronave, que fazia um voo de carga para a FedEx e era operado pela ASL Airlines Belgium, “informou o CTA [de] que estava pronta para descolagem”.

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“Em sequência, o CTA deu autorização ao FDX4959 para a descolagem da intercepção da pista 35 com o caminho de circulação D. Nesse momento, o ‘follow-me’ ainda se encontrava na pista, mais precisamente na soleira da Pista 17, já em direção a sul”, refere a nota informativa.

O GPIAAF relata que o operador do ‘follow-me’ “reparou numas luzes fortes na linha central de pista, na zona dos caminhos de circulação C e D, luzes que pareciam estar em movimento, e por esse motivo contactou a torre via rádio, questionando se havia alguma aeronave a alinhar na pista” para descolar.

“O CTA confirmou uma aeronave em corrida de descolagem e solicitou ao ‘follow-me’ uma saída imediata para a berma esquerda da pista. Pela percepção do operador do ‘follow-me’ e provisoriamente verificados nos dados do radar de solo, a distância entre a aeronave e o veículo foi estimada em torno dos 300 metros”, concluiu, para já, a investigação.

Segundo relato da tripulação do voo FDX4959, após ter sido autorizada a descolar, reparou “em luzes brancas na pista que, atendendo ao ambiente nocturno, se confundiam com as luzes de berma da pista”.

“Já durante a subida, a tripulação questionou o CTA – controlador aéreo – sobre o sucedido com a presença de um veículo na pista, onde o CTA reportou ter sido um equívoco”, lê-se na Nota Informativa do GPIAAF.

Discutido o evento com o CTA, a tripulação procedeu com o voo para Liège, na Bélgica, onde aterrou duas horas depois em segurança e sem reporte de ocorrências adicionais.

Após a descolagem, segundo as comunicações via rádio entre a Torre de Controlo do Porto e a tripulação, a que a agência Lusa teve acesso esta quarta-feira, ouve-se o piloto comandante a questionar o controlador aéreo se iria reportar a situação, considerando tratar-se de “um incidente bastante grave”. O controlador aéreo respondeu que a tripulação poderia reportar a situação, “se assim desejasse”.

A investigação do GPIAAF vai debruçar-se sobre “o funcionamento do órgão ATC [Controlo do Tráfego Aéreo] e os respectivos factores organizacionais, procedimentos envolvidos na coordenação das operações de terra, os factores humanos envolvidos, factores técnicos e equipamentos disponíveis e as medidas de gestão do risco relativamente às incursões de pista”.