Porto Editora diz não ter recebido qualquer queixa de assédio sexual
Jornalista Joana Emídio Marques acusou o ex-director editorial do grupo, Manuel Alberto Valente, de assédio sexual no âmbito de um jantar de trabalho. Editor já veio negar as acusações. Grupo para o qual trabalhava à época garante não ter tido conhecimento deste caso nem de quaisquer outras situações similares.
Os responsáveis do Grupo Porto Editora dizem não ter tido conhecimento de qualquer queixa relativa a um acto de assédio sexual alegadamente cometido pelo editor Manuel Alberto Valente, ou de “qualquer outro [caso] de natureza similar”. Em resposta a perguntas do PÚBLICO após a denúncia feita na sexta-feira pela jornalista Joana Emídio Marques, que acusa o antigo director editorial da Porto Editora de assédio sexual, a editora nega qualquer conhecimento do caso, elogia Valente e sublinha que faz parte da cultura da empresa “dar a atenção que se exige a qualquer reclamação apresentada, interna ou externa, seja qual for a matéria em causa, agindo-se em conformidade e à luz da lei”. Manuel Alberto Valente classificou no domingo as acusações de que é alvo como “falsas”.
“O Grupo Porto Editora desconhecia por completo o caso relatado pela jornalista Joana Emídio Marques, na passada sexta-feira”, afirma fonte oficial do Grupo Porto Editora numa nota enviada esta segunda-feira por email. “Em nenhum momento, ao longo destes anos, chegou ao conhecimento dos seus responsáveis máximos qualquer queixa ou relato relacionado com o caso em apreço ou qualquer outro de natureza similar.”
Joana Emídio Marques acusou, via Facebook e depois num artigo publicado online na revista Sábado, o editor Manuel Alberto Valente de um comportamento abusivo durante e após um jantar de trabalho em Novembro de 2012, relatando que o editor tentou forçar um beijo na boca e fez comentários sexuais humilhantes. Dois dias depois, e também através das redes sociais, o editor classificou as palavras de Marques como “acusações extremamente graves e, acima de tudo, FALSAS”, acrescentando ter encetado um processo judicial contra a jornalista. O PÚBLICO enviou no sábado perguntas ao editor, mas não obteve resposta.
Nas duas últimas semanas, o eco que a descrição do assédio sexual de que a actriz Sofia Arruda diz ter sido vítima traduziu-se não só em debate público e muitos testemunhos sobre o assédio laboral em geral, mas também numa linha particular de apelo: a da responsabilidade social e cívica das empresas, nomeadamente através de uma política laboral para lidar com estes casos, da prevenção à garantia de segurança para a recepção de denúncias e respectivas consequências. O PÚBLICO questionou a Porto Editora sobre a existência de uma política interna de prevenção, denúncia e recepção de queixas de assédio sexual no trabalho e sobre a sua data de implementação e metodologia. A nota enviada por email não responde directamente a essa questão: “No Grupo Porto Editora, há uma cultura de respeito e de salvaguarda dos direitos fundamentais de cada indivíduo, sendo inaceitável qualquer atitude ou comportamento que, no relacionamento profissional entre trabalhadores, e destes com os nossos públicos, contrarie esse quadro de valores.”
O PÚBLICO enviou no sábado ao grupo editorial outras perguntas sobre a publicação da jornalista nas redes sociais, no sentido de saber se a empresa tomou conhecimento, à época ou em alguma altura posterior, da situação relatada por Joana Emídio Marques e sobre as consequências dessa possível tomada de conhecimento. O PÚBLICO contactou também Rui Couceiro, identificado no post de Joana Emídio Marques como então assessor de imprensa da Porto Editora e receptor de uma queixa da jornalista sobre a alegada situação. Tanto no sábado como esta segunda-feira, Rui Couceiro declinou comentar o tema.
O PÚBLICO perguntou ainda a Porto Editora se o seu ex-director editorial Manuel Alberto Valente fora alguma vez alvo de queixas de assédio sexual no âmbito das suas funções e sobre as consequências dessas queixas, a terem existido, bem como sobre o contexto da sua saída do grupo em 2020. O grupo afirma que a cessação de funções de Valente como director da Divisão Editorial Literária de Lisboa da Porto Editora em Setembro de 2020 “foi uma decisão estritamente pessoal, que o Grupo Porto Editora respeitou e aceitou”.
Na mesma nota, a empresa elogia ainda o percurso profissional de Manuel Alberto Valente: “Com um percurso de décadas em várias casas editoriais, como a D. Quixote, a ASA e a Leya, os últimos 12 anos desse caminho foram no Grupo Porto Editora, tendo Manuel Alberto Valente exercido as suas funções com elevado profissionalismo, empenho e sentido de compromisso”.