Mota Soares regressa ao conselho nacional do CDS
Antigo ministro está preocupado com o estado do partido e volta a poder ter intervenção num órgão nacional.
O antigo ministro da Segurança Social Pedro Mota Soares está de volta aos órgãos nacionais do CDS. O ex-dirigente, que é visto como um dos possíveis candidatos à liderança do partido, foi eleito delegado do conselho nacional do CDS numa lista que liderou e era apoiada pela distrital de Lisboa. O PÚBLICO apurou que o antigo vice-presidente de Paulo Portas está preocupado com o estado do partido.
Depois da derrota eleitoral do CDS nas legislativas de 2019, Mota Soares dedicou-se à sua vida profissional e não integrou nenhuma lista ao conselho nacional no congresso de 2020, apesar de ter sido apoiante de João Almeida.
Desde então remeteu-se ao silêncio sobre o CDS, um recato que só quebrou em Fevereiro último, para defender, em entrevista ao Expresso, a realização de um congresso extraordinário e a candidatura à liderança de Adolfo Mesquita Nunes. Nessa altura, foi crítico da direcção de Francisco Rodrigues dos Santos, apontando que "o CDS não pode ser só uma voz de protesto” e que a crise era “séria”, até mesmo de “sobrevivência”.
Na semana passada, Mota Soares liderou uma lista de delegados ao conselho nacional (eleições que decorrem a cada dois anos), tendo obtido 65% dos votos e nove eleitos num universo de 140 eleitores. A lista adversária, encabeçada por João Távora, elegeu cinco delegados.
O resultado deixou satisfeito o líder da distrital de Lisboa, João Gonçalves Pereira, não só pela demonstração de “confiança na direcção distrital mas também pelo nome eleito. “É importante ter um quadro [como o de Pedro Mota Soares] no conselho nacional do CDS tendo em conta o seu percurso. É uma figura que dá valor ao conselho nacional”, afirmou João Gonçalves Pereira ao PÚBLICO.
Mota Soares, que é secretário-geral da Apritel (Associação dos Operadores de Comunicações Electrónicas) e advogado, passará a poder intervir nos conselhos nacionais ao contrário do que aconteceu nas últimas reuniões mais tensas já que não era membro daquele órgão.
Apesar de, no último ano e meio, ter limitado a intervenção pública a aspectos locais – enquanto presidente da Assembleia Municipal de Cascais –, o antigo líder parlamentar partilha a preocupação de outros democratas-cristãos sobre o actual estado do partido, a incapacidade de afirmar ideias e projectar-se nos estudos de opinião, apurou o PÚBLICO junto de fontes próximas.
O próximo conselho nacional do CDS deverá realizar-se, em breve, para aprovação dos candidatos autárquicos, e é possível que seja tenso por causa de situações como a de Lisboa, em que houve acusações à direcção nacional de tentativa de “saneamento político” de João Gonçalves Pereira, actual vereador. Os nomes que integrarão, pelo CDS, a coligação liderada pelo PSD ainda não são conhecidos publicamente, mas o afastamento do actual vereador pode gerar novo foco de tensão interna.
Após as autárquicas, o CDS terá um congresso ordinário que irá eleger um líder. Antigos dirigentes como Adolfo Mesquita Nunes, João Almeida e Nuno Melo são nomes que podem disputar a liderança a Francisco Rodrigues dos Santos. Agora, com um contributo mais activo no partido, Pedro Mota Soares pode reforçar esse elenco.