Desde Outubro que não se viam tantas pessoas na rua ao fim-de-semana
No último fim-de-semana cerca de seis milhões de pessoas saíram à rua por dia. A praia foi um destino predilecto e o perfil de mobilidade já nota alterações. O índice de mobilidade ronda valores semelhantes aos pré-pandémicos, representando uma nova normalidade.
A terceira fase do desconfinamento arrancou na segunda-feira e, com ela, a mobilidade atingiu valores que não se viam há meses — ainda que fossem expectáveis. Desde o Natal que a mobilidade nos dias úteis não era tão grande, e desde Outubro que não circulavam tantas pessoas aos fins-de-semana — antes de começarem as restrições de circulação ao fim-de-semana. A informação é avançada pela consultora PSE que estuda a mobilidade dos portugueses através da ciência de dados.
Os números não apanharam Nuno Santos, responsável pelo estudo, de surpresa. Contactado pelo PÚBLICO, sublinha que “este aumento da mobilidade já era esperado, porque, como é evidente, a cada degrau do desconfinamento a mobilidade vai aumentar”. A grande alteração na mobilidade prende-se com o levantamento das restrições de circulação aos fins-de-semana: “Verificou-se que neste fim-de-semana, tanto no sábado como no domingo, não existia tanta população a circular desde o fim-de-semana de 24 e 25 de Outubro — que é mais de meio ano”.
Em ambos os dias saíram à rua “cerca de seis milhões de pessoas”, quando “antes da pandemia eram 6 milhões e meio”. Além de um aumento na quantidade de pessoas a circular durante o fim-de-semana, também o perfil de mobilidade se alterou, adianta Nuno Santos. “As pessoas percorreram maiores distâncias, estiveram mais tempo fora de casa, deslocaram-se durante todo o dia (em oposição à circulação apenas da parte da manhã que acontecia com as restrições), e tiveram mais destinos”, aponta.
A diversificação de destinos pode ser explicada com o maior número de pessoas a circular, e as zonas balneares foram concorridas no sábado e no domingo. Nuno Santos acredita que as condições climatéricas são um factor fundamental na mobilidade e aponta que sempre houve esta procura pelas praias aos fins-de-semana para passeios higiénicos. Ora, se, em média, anteriormente “3% da população procurava estes espaços”, então no último fim-de-semana esse valor “mais do que triplicou" para “cerca de 10% da população”.
Mas, a tendência é comum aos dias úteis: os dados mostram que cerca de 70% da população está em circulação durante a semana, quando os níveis pré-pandemia rondavam os 75%. Considerando que parte da população já ficava em casa e se deslocava menos habitualmente, dada a caracterização demográfica do país, “só estamos nos dias úteis com 5% a 6% das pessoas adicionalmente em casa, para o que era o normal”, explica Nuno Santos, acrescentando que sexta e segunda-feira bateram recordes que não se viam desde 21, 22 e 23 de Dezembro.
Uma nova normalidade de circulação
No dia de segunda-feira o índice de mobilidade foi de 102%, sendo que 100% corresponde à mobilidade normal antes da pandemia. Ou seja, a mobilidade tem agora uma intensidade idêntica à existente antes da pandemia (em termos de distância percorrida e tempo de circulação). Nuno Santos conclui, assim, que a população se está a aproximar de “uma circulação normal" nos dias úteis, onde já se reconhecem fenómenos como “as concentrações nas horas de trânsito intenso”, e que se prevê uma terça-feira de igual movimentação.
Para o especialista, “é injusto” comparar os valores actuais com a realidade pré-pandémica, uma vez que existem agora mais pessoas em casa devido ao teletrabalho e ao ensino à distância. Sugere, então, que se trata de uma nova normalidade: “O novo normal é termos valores deste tipo, termos cerca de 70% da população a circular e 30% da população que pode ficar mais em casa”.
O índice de mobilidade ao fim-de-semana atingiu também um recorde do ano nos dias 17 e 18 de Abril, já a 83% da normalidade pré-pandemia.“Ao fim-de-semana vai continuar a haver uma mobilidade tendencialmente mais crescente”, justifica.
Quando observada a variação semanal do confinamento da população, percebe-se que durante a pandemia houve apenas quatro momentos em que o desconfinamento foi mais acelerado. São eles Maio do ano passado — quando terminou o confinamento —, a semana que antecedeu o Natal — quando foram levantadas as restrições de circulação —, o início da segunda fase de desconfinamento — com a retoma das aulas do 2.º e 3.º ciclo, a abertura das esplanadas e permissão de venda ao postigo — e agora a terceira fase — com a reabertura total do comércio e restauração.