Mais de um terço dos casos na Figueira da Foz resultou de dois eventos familiares
A Figueira da Foz é um dos seis concelhos do país (juntamente com Alandroal, Albufeira, Carregal do Sal, Penela e Marinha Grande) que não avança para a próxima fase de desconfinamento, por ter tido duas avaliações sucessivas em situação de risco.
Na Figueira da Foz, mais de um terço dos casos de infecção pelo vírus que provoca a covid-19 resultaram de dois eventos familiares e o presidente da Câmara voltou esta sexta-feira a apelar ao cumprimento das regras.
A Figueira da Foz é um dos seis concelhos do país (juntamente com Alandroal, Albufeira, Carregal do Sal, Penela e Marinha Grande) que não avança para a próxima fase de desconfinamento, por ter tido duas avaliações sucessivas em situação de risco, mantendo as restrições actualmente em vigor.
“Na realidade, esta sexta-feira, o comportamento de alguns pode afectar todo um concelho, toda uma actividade económica, com incidência muito particular na restauração e hotelaria, que tem sido um dos sectores que mais tem sofrido com este confinamento”, disse à agência Lusa Carlos Monteiro.
Dos 82 casos que Carlos Monteiro diz que este concelho litoral do distrito de Coimbra contabiliza até esta sexta-feira, 34 (cerca de 40%) “infelizmente, estão focados em duas situações, uma com 21 infectados e outra com 13”. “Mais de um terço dos casos resultaram de dois focos em eventos familiares”, notou Carlos Monteiro.
“Extrapolando para a taxa por 100 mil habitantes, ficamos acima dos 120, não desconfinamos e estes números foram muito afectados por estes 34 casos. Infelizmente, tínhamos colocado a hipótese de isso poder acontecer”, observou.
Sobre a decisão do Governo de não fazer avançar a Figueira da Foz para a próxima fase de desconfinamento, Carlos Monteiro não critica a regra: “Há quem queira discutir as regras. Mas a regra discute-se antes, se é justa ou injusta. Eu não discuto a regra ‘à posteriori’, muito menos em causa própria”, argumentou o autarca.
“Mas, o que eu sei que é injusto, é a Figueira da Foz ter passado, há uns meses, por uma situação em que qualquer pessoa que estivesse infectada já estava em risco de não ter vaga no hospital. Isso é que é de uma injustiça enorme. O que temos hoje de fazer é acautelar, cumprir as regras necessárias, ter os comportamentos necessários para nos colocarmos dentro da norma”, alegou Carlos Monteiro.
“O grande enfoque tem de ser no comportamento das pessoas. Estamos numa pandemia e a pandemia obriga a comportamentos de excepção, porque, fundamentalmente, este acréscimo de números prejudica e muito a economia do concelho”, acrescentou.
Deste modo, o presidente da Câmara apela a “cuidados acrescidos” para os próximos tempos, não só pelo aproximar da época balnear que pretende que decorra “com normalidade”, mas também pelo “aumento normal do número de casos face ao aumento de testagens”. “O aumento de testagens vai aumentar os casos identificados. Os cuidados têm de ser acrescidos, porque senão daqui a 15 dias poderemos continuar na mesma situação”, avisou.
Já sobre os números diários de novas infecções, divulgados diariamente pelo município, divergirem dos contabilizados pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), Carlos Monteiro frisou que o município pediu esclarecimentos à autoridade nacional. Por exemplo, no período de 14 dias entre 24 de Março e 6 de Abril, os dados fornecidos pela delegação de saúde da Figueira da Foz à Câmara Municipal apontavam para 48 novos casos de infecção (uma incidência de 82 casos por 100 mil habitantes, para uma população de cerca de 58.600 residentes), enquanto os números da DGS se situavam, no mesmo período e face à mesma população, em 75 casos (128 por 100 mil habitantes, acima do limiar de risco).
Para ficar abaixo do limiar de risco de 120 casos por 100 mil habitantes, a Figueira da Foz não pode ultrapassar os 70 casos de infecção a 14 dias.
“Pedimos explicações à Direcção-Geral de Saúde. Ontem [quinta-feira] enviaram-nos os dados que têm, assumindo que estão bem eu não tenho como os contraditar, porque os dados que nós temos são os enviados pelo delegado de saúde, que pressupostamente os enviará para Lisboa. Mas, de qualquer maneira, já ontem estivemos a conversar e não pode continuar a haver esta divergência. Não é isto que resolve ou não resolve o problema, mas fundamentalmente as pessoas têm de ter os dados correctos, tem de haver transparência e rigor nos dados que nos são facultados”, afirmou o autarca.
“Estamos a trabalhar para que os dados que nós publicamos sejam coincidentes com os dados nacionais da DGS. O que não faz sentido é nós publicarmos os dados que vêm da delegação de saúde da Figueira da Foz e, ao mesmo tempo, haver dados nacionais que não são coincidentes e superiores”, sublinhou.